relatos selvagensO Cine Topázio, que deve fechar as portas no Shopping Prado, em Campinas, está exibindo provavelmente o melhor filme do ano.

O longa argentino Relatos Selvagens, de Damián Szifron, expõe o ser humano numa catarse da vida cotidiana sem freios. É de um humor refinado, amealhado nas entranhas das relações sociais cotidianas.
O filme não perdoa as pequenas fantasias da vida cotidiana. Ele vai nas vísceras do ser humano em uma sociedade fria, calculista, mas extremamente banal. É permeado por uma violência que passa por nossas vidas como um pequeno deslize, um detalhe, uma atitude, uma indignação.

A violência não tem o caráter gratuito, como nos filmes de Tarantino, que faz uma espécie de clipe da violência, uma espécie de ‘espreme que sai sangue do cinema’ cult. Em Relatos Selvagens, a violência está ali, no momento de gestação, dentro dos olhos, no sangue dos personagens, que podem simplesmente explodir ou esquecer, como fazemos cotidianamente.
A violência é a própria vida comum, em limite tênue. Não são sujeitos mafiosos, exímios atiradores, lutadores voadores, heróis, etc. É o professor, o aluno, o pobre, o rico, os noivos, o advogado. Os fantasmas se realizam na vida mundana.

Mas o filme não é só conteúdo e bom humor, o que já seria muito. Há toda uma forma caprichada, que começa na apresentação dos créditos iniciais com fotos de animais. O longa é uma coletânea de pequenas histórias independentes, interpretadas por bons atores como Ricardo Darín, Nancy Dupláa, Oscar Martínez, María Onetto, Erica Rivas, Leonardo Sbaraglia e Julieta Zylberberg. O detalhe é a produção do famoso e incomum diretor espanhol, Pedro Almodóvar.
Irônico que talvez o melhor filme do ano esteja em exibição num cinema que recebeu aviso prévio para se mudar.
Veja trailer: