Quando Aécio Neves iniciou seus movimentos na campanha eleitoral deste ano (2014), decidiu recuperar o PSDB que não esconde suas políticas neoliberais. Diferente dos últimos dois candidatos do partido à presidência, que esconderam durante a campanha Fernando Henrique Cardoso (FHC)  e sua política agressiva de privatizações e Estado mínimo, Aécio corajosamente resolver assumir o verdadeiro discurso tucano.

Samuel Pessôa: proposta para o ensino básico continuar ruim
Samuel Pessôa: proposta para o ensino básico continuar ruim

Esse é um mérito, porque assim a população sabe melhor em quem está votando, principalmente para uma população que virou gato escaldado depois que um presidente (Fernando Collor) disse que não iria “mexer na poupança” e depois de eleito passou a mão nas economias do povo.

O próprio Aécio já defendeu a empresários que (se eleito) tomará medidas “amargas e impopulares” para a população. Recentemente, uma nova bomba foi o artigo de Samuel Pessôa, que faz parte do grupo que o candidato tucano selecionou para fazer seu programa de governo. Ele defendeu que as universidades públicas sejam pagas pelos alunos.  Essa tentativa tucana de cobrar mensalidade da classe média nas universidades já foi muito debatida nos governos de FHC e só não avançou porque o governo estava totalmente desgastado com inúmeras privatizações e políticas econômicas equivocadas. Aécio parece realmente recuperar FHC. E se ganhar, as chances são grandes de a classe média pagar mensalidade do fundamental ao ensino superior.

O problema menor talvez seja cobrar mensalidades da classe média. A tragédia dessa proposta está no que ela não diz. O levantamento desse debate já no início da campanha mostra claramente que um futuro governo de Aécio Neves não tem projeto (nem compromisso) algum com a melhoria da educação básica pública, do fundamental ao ensino médio.

No projeto de Aécio Neves, como pode se ver, a área educacional básica está projetada para ficar do jeito que está, mantendo nas universidades públicas a maioria de universitários oriundos de classe média. Se houvesse um projeto de melhoria da educação básica pública não faria sentido essa ideia de cobrar mensalidade nas universidades estaduais e federais, visto que esses alunos de baixa renda teriam condições de competir em igualdade com os alunos de escolas particulares. O mais desastroso do projeto de Aécio Neves é perceber que, na sua proposta, a realidade da educação básica está dada e não vai mudar.

Apesar de ter havido avanços na última década com acesso de alunos oriundos de escolas públicas por meio de cotas, Prouni, Enem e outros programas federais, a presença de alunos de classe média e classe média alta nas universidades públicas ainda é grande. Na região Norte, por exemplo, apenas 1,4% dos alunos das universidades federais são de escolas públicas. Ou seja, é preciso melhorar a escola pública e não, como quer a equipe de Aécio, cobrar  mensalidade da classe média. E essa classe média que vota em Aécio e rala para entrar em uma universidade pública é que vai pagar a conta (ou melhor, a mensalidade).

Aécio parece ter pelos menos uma das convicções de José Serra nas campanhas eleitorais anteriores, a confiança de que suas ideias ruins para a população sejam narradas pela grande mídia como benéficas. E assim se sente protegido quando a pirita brilha como ouro nos discursos oligárquicos midiáticos.