Lua

Por Luís Fernando Praga

1) Rodopio:

Quando a Terra ensaiava o rodopio,
Sonhava em novamente ser estrela,
Foi que o Sol protetor sentiu seu cio,
Trocou o seu calor e veio tê-la.
Do amor do Sol fogoso e terra nua,
Firmou-se ao firmamento tenra cria,
Que o pai negou e a mãe chamou de Lua,
E o Sol criou pra ela a noite fria.
E os três ao fim de cada madrugada,
Planejavam toda a vida que viria,
E pra não ser pra sempre rejeitada,
A Lua planejou a poesia.
2)Equilibrando:
Acho bom ser racional, analisando contextos,
Cada vírgula dos textos em seu papel crucial.
Me abstraio de mim mesmo pra ver em perspectiva,
Busco a mente criativa que não crê no crer a esmo. Eu racionalmente sei que o ser racionalizado
Não vive acima da lei, nem vive menos errado.
Mas sou forçado também, para entender um evento,
A crer na versão que tem mais força em seu argumento.A razão me faz supor que há razões além das minhas,
Mas tem um limitador, não sabe ler entrelinhas.
Não abro mão da razão para pisar cada passo,
Mas abrindo o coração, eu vou contar como eu faço.Há sempre uma ocasião, algum momento do dia,
Não sei se por opção ou se ela faz de folia,
A Razão dá um rolê, talvez vá tomar um ar,
Então passo a entender o que ela evita explicar.
É quando sou mais feliz, sinto a alma menos fria
E Razão, muito intrigada, vem flertar com a Poesia.
3)Marginal Autônoma:
Essa palavra que eu falei um dia,
Pensei escrita antes de falar,
Então deixei bem claro o que eu queria,
Só ela se encaixava no lugar.Entre outras duas eu a coloquei,
Duas palavras feitas só pra ela,
Igualadas a pajens para o rei,
Que só realizado se revela.Vieram mais palavras pra dar base,
As proletárias dessa monarquia,
E o seu castelo era a minha frase,
E o seu reinado, minha poesia.Mas é que uma palavra é como um bicho,
E por descuido eu a soltei sozinha…
A marginal fez pouco do seu nicho,
E foi se libertar numa entrelinha.

4)Meio Maduro:

É por sentir tão íntimo o que sente,
Qual a Lua que some  e que recresce,
Em se poetizar, nasce outra mente,
Sem perceber então, amadurece
E como a palpar frutas numa feira,
Escolhe outra em detrimento à musa,
Que na metamorfose derradeira,
Toma as formas da língua que ele usa.
5) Sonolento Alento:
Que o sono venha logo pra zelar por mim,

E eu durma no aconchego das palavras,

Amigas cordiais, jamais escravas,
Segredam-me quem sou e de onde vim.
Enfim, à foz da noite, caudaloso rio,
Que meu interior, escuro e frio,
Saiba tecer das entrelinhas certas,
Os sonhos que me sirvam de cobertas.