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Mulheres fazem manifestação contra violência obstétrica em São Paulo

Organizações de mulheres que defendem o parto humanizado fizeram hoje (11), protesto no Largo São Francisco, região central de São Paulo, em apoio a Adelir Góes, gestante obrigada pela Justiça a se submeter a uma cesariana no dia 1º abril.

Projeto Retratos da violência obstétrica (http://carlaraiter.com/1em4/o-projeto/)

As manifestantes vão permanecer em vigília até as 11h de amanhã (12), quando sairão em caminhada para a sede do Ministério Público, onde pretendem protocolar um requerimento de audiência pública para debater a violência obstétrica. Durante o ato, haverá exibição de filmes com informações que desmitificam o parto natural, além de apresentações culturais e debates.

De acordo com o Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria Pública Estadual, a violência obstétrica caracteriza-se pela apropriação do corpo e dos processos reprodutivos das mulheres pelos profissionais de saúde, por meio do tratamento desumanizado, abuso de medicação e transformação de processos naturais em atos médicos. “Estamos falando de uma conscientização das mulheres pelo corpo, pelos processos naturais, e não necessariamente sobre qual procedimento é necessário ou não”, apontou Ana Lúcia Keunecke, diretora jurídica da organização não governamental Artemis, uma das promotoras da manifestação.

A decisão da Justiça do Rio de Grande do Sul que determinou que Adelir, 29 anos, fosse submetida à cirurgia, atendeu a pedido do Ministério Público (MP) feito com base no relato da equipe médica do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes. Segundo o MP, a mulher, grávida de 42 semanas, procurou o hospital com dores abdominais. Apesar da indicação cirúrgica, ela preferiu retornar para casa e aguardar o parto normal. Após a liminar, ela foi levada para o hospital. Os médicos disseram que a gravidez era de risco, porque a paciente havia feito duas cesáreas antes, o que aumenta a possibilidade de ruptura uterina e, por consequência, o risco de morte da mãe e do bebê.

A fotógrafa Fernanda Pinheiro, 31 anos, mãe de Alice, 5 anos, e Sofia, 8 meses, relembra que teve que se informar bastante para decidir por um parto natural mesmo depois de uma cesariana. “Eu tinha conhecimento antes de ser mãe, mas o medo, a pressão da família, me levou ao hospital. E lá me senti muito violentada”, relatou. Ela conta que foi recebida por um plantonista que imediatamente deu medicamentos e descartou a possibilidade de ela ter um parto normal, pois não dilataria o suficiente. “Na minha segunda filha, jurei para mim que eu iria atrás de mais informação e consegui ter meu parto tão sonhado. Ela nasceu em casa”, declarou.

O médico obstetra Jorge Kuhn, ativista da humanização do parto, destaca que há evidências que a mulher pode tentar o parto vaginal após quantas cesarianas tenham vindo anteriores. “Não havia risco para ela [Adelir]. Risco maior, ela e o bebê correram com cesariana. Ela passou no hospital horas antes, foi feita ultrassonografia, vi o laudo do ultrassom, o nenê estava muito bem”, avaliou. Ele avalia que houve inabilidade dos profissionais do hospital em fazer o parto pélvico. “Eu não conheço nenhum caso como esse no Brasil. Seria a mesma coisa de fazer com que uma mulher decidida pela cesariana, fosse obrigada a parir normalmente contra a vontade dela”, declarou.

Embora não concorde com cesariana sem indicação clínica, Kuhn avalia que é um direito da mulher decidir sobre o procedimento em que ela se sente mais confortável. Foi o que ocorreu com a funcionária pública Carolina Monteiro, 27 anos. Ela tinha muito receio de engravidar por temer o parto. “Eu não via nenhuma alternativa que me agradasse, que não me colocasse com medo. O normal que eu conhecia me assustava muito”, relatou. A decisão pelo método natural veio após duas amigas terem passado pela experiência. “Uma vez que o nosso corpo é respeitado, a gente nasceu preparada para isso, e é possível fazer disso uma coisa maravilhosa”, relembrou. (Agência Brasil)

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