As cesarianas representam 82% dos nascimentos na rede particular no país, e quase 38% dos partos na rede pública, de acordo com o Ministério da Saúde. A média brasileira de cesarianas é 52%, quando a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que não ultrapasse 15%.

mães e bebês
Movimento a favor da humanização do parto

Essa não foi a situação de Emylaine Teixeira. A boa e rápida recuperação foi a principal motivação da policial Emylaine, 23 anos, decidir por um parto normal. Mãe de primeira viagem, ela não se sentia confortável de saber que a maioria dos hospitais cobertos pelo plano de saúde poderia induzi-la a uma cesariana. “Vi que eu precisava me informar”, declarou.

Ao longo da gestação, ela descobriu que a escolha envolve também uma relação de aproximação com o bebê e com a família. Augusto nasceu no dia 27 de março, na Casa de Parto de Sapopemba. Até então a única casa de parto do Sistema Único de Saúde (SUS), em São Paulo. O município agora vai contar com mais oito unidades.

“Entrei de cabeça nesse assunto e entendi a concepção do parto humanizado. Procurei hospitais, mas resolvi que não queria ter meu filho lá”, relatou. Antes de chegar a Sapopemba, na zona leste paulistana, Emylaine esteve na Casa Angela, uma unidade ligada à Associação Comunitária Monte Azul, na zona sul. Atualmente, também é uma opção para ter parto natural na capital paulista, mas o atendimento só é gratuito para os moradores da região. Por mês, em média 20 bebês nascem na Casa de Parto de Sapopemba, segundo a Secretaria de Municipal de Saúde.

Para justamente aumentar o número de partos normais, serão criados em São Paulo seis Centros de Parto Normal (CPNs), sob responsabilidade da prefeitura, e dois em maternidades do governo estadual. As unidades – três na zona leste, dois na oeste, dois na sul e uma no centro – fazem parte da Rede Cegonha, programa do Ministério da Saúde. O investimento do governo municipal é de aproximadamente R$ 82,9 milhões. Cada centro terá cinco quartos com capacidade para fazer até 80 partos por mês. Apesar de terem sido anunciadas no mês de março, ainda não há prazo para que comecem a funcionar.

De acordo com o ministério, os CPNs foram renomeados para casas de parto após a estratégia Cegonha, mas mantêm o mesmo padrão humanizado de atendimento. O novo modelo, criado com o programa em 2011, estabelece que os centros podem funcionar dentro das maternidades ou a 200 metros de uma. No Brasil, existem, atualmente, 14 casas de parto que atendem pelo SUS em nove estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Bahia, Alagoas, Paraná, Ceará, Paraíba e Sergipe.

Emylaine não nega que precisou enfrentar os próprios medos e o receio da família, mas o acesso à informação fez com que se tranquilizasse. “Você sente dor, não dá para dizer que não, mas só conseguia pensar que meu filho viria para o meu peito e foi assim que aconteceu”, relatou. No parto natural, a criança vai direto para a mãe e o cordão umbilical só é cortado depois que ele para de pulsar. “É o que preconiza a OMS. Depois de mamar é que a gente faz a rotina do pós-nascido”, explicou a enfermeira obstetra Kátia Guimarães, gerente da casa de parto municipal.

O plano de parto de Emylaine foi acertado na primeira consulta na casa. Ela tirou dúvidas, definiu os acompanhantes, no caso o marido e uma prima, e o ambiente que gostaria para o quarto. Kátia explica que as gestantes que escolhem a unidade são acompanhadas a partir da 37ª semana. “Até a 41ª semana são feitas consultas semanais com enfermeiras alternadas para que ela conheça toda a equipe, já que não sabemos quem vai fazer o parto”, explicou. A casa funciona 24 horas e quem quiser conhecer o espaço pode visitar a unidade das 8h às 20h.

Foi assim também com a auxiliar administrativo Gisele Simões, 24 anos, que deu à luz a Marina, no dia 2 de abril. “Meu marido acompanhou todo o parto. Nós conversamos. A enfermeira me ajudou muito, fez massagem porque comecei a ter câimbras. Foi muito bom”, relembrou. Ela teve a primeira filha, hoje com 4 anos, também com parto normal, mas em uma maternidade e relata que sentiu muita diferença nos dois procedimentos. “Lá foi uma coisa muito fria. No trabalho de parto fiquei numa cama sozinha por sete horas. Aqui, eu me senti acolhida”, relatou.

A casa recebe gestantes de baixo risco, sem ser necessário encaminhamento de outra unidade de saúde. Entre os requisitos para ser atendido, estão não ter problemas no pré-natal, não ter doenças preexistentes e o último parto não ter sido uma cesariana. “Se o primeiro foi cesáreo, o segundo normal, o terceiro pode ser normal aqui na casa de parto, mas se a paciente fez uma cesariana, ela pode ter normal, mas não aqui na casa de parto”, explicou Kátia. Segundo ela, isso aumenta os riscos de ruptura de útero, que provoca sangramento. A unidade tem uma ambulância disponível 24 horas e um hospital de referência para onde são levados os casos que precisam de remoção. “Em março, tivemos duas, mas nenhuma intercorrência grave”, relatou.

A gerente explica que, embora seja a única casa de parto do SUS atualmente, não há demanda reprimida na unidade. “Hoje, você não vai a um lugar onde se faz parto natural que seja lotado. A paciente tem que querer isso. A gente vem com a cultura muito forte do parto cesáreo e isso vai mudar com o tempo. Não muda rapidamente”, avaliou Kátia. Ela acredita que a descentralização das unidades, com as novas casas de parto, vai ajudar a levar informação às mulheres e a diminuir o número de cirurgias. (Agência Brasil)