Você já viu uma boa reportagem em horário nobre na Globo ou na TV Bandeirantes sobre os brasileiros que morrem envenenados pelo uso de agrotóxicos? Difícil: na Globo o “agro é pop” e a Band é uma espécie de assessoria de imprensa dos fazendeiros e grilheiros em relação aos conflitos de terra. Mas uma reportagem de verdade você pode ver em uma TV do Catar, um país árabe do Oriente Médio.

Na reportagem, Maria Gerlene dos Santos viu seu marido, Vanderlei Matos da Silva, definhar devido a uma doença renal causada pela exposição aos agrotóxicos. Em 2008, após três anos trabalhando na armazenagem e mistura desses produtos na empresa multinacional Del Monte Fresh, produtora de frutas para exportação em Limoeiro do Norte, na Chapada do Apodi, Ceará, ele morreu. No ano seguinte ela entrou na Justiça, onde o caso chegou à última instância, com a empresa condenada à indenização.

No mesmo ano ano, na mesma localidade, morreu o trabalhador rural José Valderi Rodrigues. Empregado da empresa Tropical Nordeste, ficava exposto à pulverização de agrotóxicos de camiseta, bermuda e chinelo. A viúva, Maria Conceição de Sousa, ainda luta na Justiça contra a empresa.

Viúvas do Veneno, Maria Gerlene e Maria Conceição são as principais personagens de reportagem da TV Al Jazeera, do Catar. A reportagem foi ao interior do Ceará para mostrar exemplos do sofrimento que os agrotóxicos causam aos trabalhadores rurais, que utilizam os produtos como se regassem flores, e familiares de agricultores mortos.

Casos que poderão se multiplicar com o afrouxamento da legislação para registro, produção, venda e utilização desses produtos – o Pacote do Veneno.

Aprovado em Comissão Especial, o substitutivo do deputado ruralista Luiz Nishimori (PR-PR) – que também é ouvido pela reportagem – está pronto para entrar na pauta de votação pelo plenário da Câmara.(RBA e Carta Campinas)