Morar perto de uma ciclovia (até 500 metros) aumenta em 154% a chance de usar a bicicleta como meio de transporte na cidade de São Paulo.

A conclusão é um estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) com a colaboração de colegas da Universidade de Melbourne, na Austrália.

A pesquisa, que contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, avaliou a relação da locomoção ativa por duas rodas e a proximidade com estações de metrô e trens.

Segundo os resultados, o transporte sobre trilhos, em um raio de até 1,5 mil metros, aumenta em 107% a chance de usar a bicicleta. O trabalho feito a partir de um amplo estudo desenvolvido pela USP ouviu 3,1 mil pessoas sobre o perfil da saúde dos moradores na capital paulista.

O percentual de total de adultos que usam a bicicleta para se locomover na cidade é 5,1%. O número é considerado baixo pelo professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP) Alex Florindo. Para ele, a meta deve atingir os níveis encontrados na Dinamarca e Holanda. “[Esses países têm] em torno de 27% a prevalência do uso da bicicleta como forma de transporte. O nosso sonho é chegar próximo a esses países, de quase 30%”, ressaltou.

Apesar do estudo ter feito o recorte de como o ambiente influencia nos hábitos das pessoas, Florindo enfatiza que adoção de novas atitudes depende de uma série de fatores. O pesquisador faz um paralelo, por exemplo, do impacto da crise do petróleo de 1973 e a greve dos caminhoneiros nas últimas semanas. “A gente teve um bom experimento natural que aconteceu na semana passada: a greve dos caminhoneiros e a falta de combustível. Aumentou muito a quantidade de pessoas que usaram a bicicleta aqui em São Paulo. Na Holanda aconteceu isso, de uma forma um pouco mais grave, com a crise do petróleo na década de 1970”.

As políticas públicas também precisam, segundo o professor, ser pensadas de forma ampla. Florindo destaca, por exemplo, a necessidade de promover a integração entre as vias para bicicletas e o transporte público. “Nós temos muitas ciclovias e estações de trens e metrôs, mas ainda não tem um projeto para coordenar isto. Precisa melhorar essa coordenação, essa ligação”.

Florindo lembra que a infraestrutura específica é um fator básico para dar segurança e incentivar a locomoção ativa na cidade. “Se não tiver ciclovia, em um trânsito tão violento como nós temos no Brasil, as pessoas não vão usar”. (Daniel Melo – Ag. Brasil)