Em São Paulo – A obra “A Vênus das Peles”, de Leopold von Sacher-Masoch, desde seu lançamento em 1870, se tornou fonte de inspiração para poetas, pintores, dramaturgos, músicos, cineastas, psicólogos, médicos, sociólogos, entre outros. Provavelmente porque o autor nesta novela explicita e radicaliza sua visão conturbada sobre o desejo, envolvendo o leitor numa reflexão inevitável sobre os papéis que representamos no cotidiano, sobre os limites entre fantasia e realidade, sobre a presença subliminar da sedução em todas as relações sociais e sobre o paralelismo entre essas relações e o ato sexual. Com seu desfile de medos, taras, desejos secretos, humilhação e sofrimento – e com o debate que propõe sobre sexo, arte e poder.

Com dramaturgia coletiva e com intenção de colocar em cena o universo de A Vênus das Peles”, de Leopold von Sacher-Masoch, estará em cartaz até o dia 9 de julho no IAB – Instituto de Arquitetos do Brasil (Rua Bento Freitas, 306, República, São Paulo, SP), o espetáculo ‘Venus Ex Libris’ com direção de Luiz Fernando Marques e atuação dos atores Ana Carolina Godoy e Rafael Steinhauser.

Idealizada pelos atores Ana Carolina Godoy e Rafael Steinhauser, ‘Venus Ex Libris’ tem na cocriação e direção Luiz Fernando Marques e conta com a parceria de diversos artistas que ao longo desse processo contribuíram para enriquecer e consolidar esse trabalho: Paulo Arcuri, Tomas Rezende, Lucas Brandão, André Cortez, Daniele Avila Small, Wagner Antônio, Yumi Sakate, Gabi Gonçalves, Marcio Abreu e Jenia Koleskinova.

A dramaturgia foi concebida coletivamente em processo de sala de ensaio a partir do livro de Sacher-Masoch, também livremente inspirada na obra do autor americano David Yves – Venus in Fur, no filme – de mesmo nome – de Roman Polanski, na música Venus in Furs de The Velvet Underground, no imaginário de Vênus na pictografia renascentista e no próprio mito de Vênus.

O local escolhido para encenação de Venus Ex Libris não poderia ser mais propicio: primeiro andar da IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), um prédio icônico, situado na Rua Bento Freitas, no centro da cidade, famosa por abrigar a boêmia, o sexo e as contravenções. O Mezanino do prédio – que pela primeira vez será usado como espaço cênico – vai emprestar suas linhas e curvas modernistas para contar esta história. Vale lembrar que o diretor Luiz Fernando Marques (do Grupo XIX de Teatro) tem, na sua trajetória, ocupado artisticamente diversos espaços históricos em São Paulo, no Brasil e pelo mundo.

“Deslizava furtivamente, como para gozar um prazer proibido, para junto de uma Vênus de gesso que se encontrava na biblioteca do meu pai…

Ajoelhei-me frente a ela e abracei os seus pés gelados, como havia visto fazer as aldeãs aos pés do Crucificado…

Um desejo ardente e invencível apoderou-se de mim. Pondo-me de joelhos, abracei o seu formoso corpo frio, beijei os seus lábios e pareceu-me que a deusa, com um braço levantado, me ameaçava”

(A Vênus das Peles, de Sacher Masoch).

Sinopse:
Um homem, uma mulher, o livro “Vênus em Pele” de Masoch, a tela de Ticiano – Vênus ao espelho, dois goles de café e um casaco de pele: elementos de uma mesma cena, figuras de uma possível fantasia. Ele e Ela imersos em um território desconhecido, no limiar da dor e do prazer e, ainda que excitante, revelador de conteúdos obscuros que podem transbordar para além daquela sala de uma grande metrópole em um dia de tempestade.

Na peça Venus Ex Libris o poder está no centro da cena. Se por um lado o poder pode significar potência no melhor sentido da palavra e de uma expressão de liberdade e realização individual, por outro se desdobra em domínio, controle, subjugação, exploração, entre tantos outros sinônimos. O livro fala sobre relações de poder e chega até teorizar sobre a impossibilidade de uma relação igualitária e cooperativa entre homens e mulheres – pelo menos até que a mulher de fato passe a ter os mesmos direitos dos homens. Enquanto isso não se realiza, ele faz uma comparação da relação homens e mulheres à teoria de Goethe sobre o martelo e a bigorna: “Na grande balança da fortuna, raramente para o fiel; deves subir ou descer; deves dominar e ganhar, ou perder e servir, deves sofrer ou triunfar; deves ser bigorna ou martelo”.

Fato é que o poder está presente em toda e qualquer tipo de relação em maior ou menor grau e aqui é levado ao extremo através de um jogo erótico. Tanto que o termo médico “masoquismo” foi cunhado a partir do nome do autor da obra, que também mantinha relações semelhantes em sua vida real. Mas aqui não pretendemos fazer nenhum julgamento de valor e tampouco classificar e limitar à experiência que ambos personagens se propõem, fazendo o mesmo que o médico alemão fez com Masoch. Não estamos falando de uma patologia, mas de uma experiência levada a um limite desconhecido.

Sobre o espetáculo, o diretor Luiz Fernando Marques diz: “Talvez [sejam] duas pessoas que desejam ardentemente sentirem- se vivas a partir de uma experiência (aparentemente) transgressora, no mundo em que vivemos hoje, de tamanhas distâncias e impessoalidades. Afinal, a quem pertence o nosso corpo e as nossas escolhas? Ao Estado? À natureza? Quais são os limites entre a liberdade pessoal e a do outro? O que é ser mulher e o que é ser homem hoje? O que define o feminino? O que define o masculino? Perguntas essas que não temos a pretensão de responder, mas sim contribuir para um debate que vêm cada vez mais ganhando espaço atualmente tanto no meio acadêmico, como na mídia, no meio artístico e nas redes sociais. Entretanto, apesar de serem cada vez mais discutidas, permanecem ainda num plano discursivo, sob o território das palavras, também um instrumento de poder e controle. Nesse sentido, o teatro por sua natureza performática, pode dar a oportunidade e a medida da experiência”.

Na trama: Um homem e uma mulher marcam um encontro para viverem uma fantasia erótica de dominação e submissão inspirada no livro “Vênus em Pele” de Sacher-Masoch. Ele deseja ser submetido por Ela que aceita o desafio. Ambos então começam um jogo, cada um declara os seus princípios, mas os limites e as regras permanecem indefinidas. Mas afinal, quem é o manipulador? Quem define onde começa e onde termina esse jogo? O que cada um deseja dessa experiência? O fato é que ambos se propuseram a entregar-se a um território desconhecido, no limiar da dor e do prazer e, ainda que excitante, ele pode revelar conteúdos obscuros que podem transbordar para além daquela sala transitória de uma grande metrópole em um dia de tempestade. (Carta Campinas com informações de divulgação)

Ficha técnica:
Título: Venus Ex Libris | Dramaturgia: Criação Coletiva | Direção: Luiz Fernando Marques | Elenco: Ana Carolina Godoy e Rafael Steinhauser | Assistente de Direção: Paulo Arcuri | Cenografia: André Cortez | Figurino: Yumi Sakate | Luz: Wagner Antônio | Preparação de elenco: Lucas Brandão e Tomas Rezende | Produção: Núcleo Corpo Rastreado – Gabi Gonçalves

Temporada de Sexta a Domingo | Sexta e sábado, às 21h e Domingo, às 18h
Dias: 25, 26 e 27/05, 01, 02, 03, 08, 09, 10, 15, 16 e 17/06, 06, 07 e 08/07

Temporada de Sábado e Domingo | Sábados, às 21h e Domingos, às 18h
Dias: 23, 24 e 30/06 e 01/07

Sessões extras
Quinta – 31/05 (feriado), às 21h
Sábados – 30/06 e 07/07, às 23h59
Segundas – 04/06 e 09/07 (feriado), às 21h

IAB – Instituto de Arquitetos do Brasil
Mezanino – 1º andar
R. Bento Freitas, 306 – República – São Paulo SP
Informações: 11 3259-6149
Ingressos: Pague Quanto Puder
Duração: 90 min/ Recomendação: 16 anos/ Capacidade: 40 lugares