Aplaudido a todo momento por um auditório lotado, o Prêmio Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel, de 1980, defendeu na manhã do último dia 18 uma educação superior comprometida com a liberdade e os direitos humanos em aula magna ministrada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Estudantes, servidores e professores ocuparam todo o auditório, ficaram de pé e sentaram no chão para ouvir as palavras do ativista que faz parte da história da defesa dos direitos humanos na América Latina.

“A universidade tem a capacidade de transmitir consciência crítica e valores e de formar homens e mulheres para a liberdade, e não escravos de um sistema. Esse é o desafio das universidades”, disse o argentino, que é professor da Universidade de Buenos Aires. “A universidade tem de ser rebelde frente às injustiças e ao sofrimento do povo. Temos de trabalhar para a vida e não para a morte”.

Pérez Esquivel lembrou da militância na época das ditaduras militares da América Latina, ao lado do arcebispo católico Dom Helder Câmara e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que classificou como “um preso político”. “Lula não é um delinquente, é um preso político”, afirmou Esquivel, que viajou depois para Curitiba, onde foi impedido de visitar Lula. Esquivel organizou um abaixo assinado para que Lula ganhe o Nobel da Paz.
O Nobel da Paz também destacou intelectuais brasileiros como Paulo Freire, Frei Beto e Leonardo Boff. “Paulo Freire marcou muitíssimo quando desenvolveu a Pedagogia do Oprimido, com a educação como prática de liberdade, que levou a um movimento muito forte em todo o continente.”

Pérez Esquivel defendeu que a democracia é uma construção que requer unidade e diversidade e voltou a avaliar que as democracias latino-americanas estão em perigo. “Não há democracia perfeita. Não somos uma sociedade de anjos, somos uma sociedade de homens e mulheres, com nossas luzes e sombras”, disse. Ele avaliou que é preciso ter democracias mais participativas e menos representativas. (Agência Brasil)