Maria Salestiana, Ludmila, Maria do Socorro

.Por Iolanda Toshie Ide.

A 40 km de Belém, lama vermelha inundou igarapés de Bom Futuro, Burajuba e rios Murucupi, Tauá e Pará, atingindo lagos e poços artesianos. Em fevereiro, Maria do Socorro Costa Silva, presidente da Cainquiama (Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia) e Ludmilla Machado de Oliveira, ambas moradoras de Burajuba, denunciaram insistentemente a contaminação dos mananciais pelos resíduos da bauxita.

Maria do Socorro denunciou as perseguições de que tem sido alvo, inclusive por invasão de sua casa por policiais militares. “Em 2009 todo mundo viu, ouviu, bateu foto do que ela [a Hidro Alunorte] fez e não fizeram nada. A empresa comprou todo mundo, inclusive algumas lideranças de comunidade […]. Mas eu não preciso da miséria de ninguém. Meu povo precisa de respeito. Dessa vez vai ser diferente”, declarou Maria do Socorro Costa Silva.

Maria Salestiana Cardoso, moradora da comunidade de Bom Futuro, bem próxima da bacia de rejeitos da mineradora Hydro Alunorte, diz estar sendo seguida por um veículo prateado 4 x 4.

Aos 69 anos de idade, afirma não temer declarando “a luta da escravidão corre no meu sangue”. Ela está decidida a continuar lutando a despeito do assassinato de Fernamdo Pereira em 22 de dezembro último, como também de Paulo Sérgio Almeida Nascimento no último dia 12 de março.

Também membro da Cainquiama (que abriga 112 comunidades tradicionais), Ludmila Machado de Oliveira, teve a casa apedrejada e sente muito medo por causa da insegurança a que está submetida sua família.

Simone Pereira, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Pará na área de química, a pedido do Ministério Público Federal, estuda as consequências da contaminação das águas na saúde da população de Barcarena. Inicialmente sua pesquisa enfocou os danos por alumínio, fósforo e chumbo analisados nos fios de cabelo. A seguir analisará os danos por arsênio, mercúrio, bário e cádmio, já detectados nas águas em Barcarena.

A mineradora norueguesa Hydro Alunorte lança soda cáustica e ácido sulfúrico nos mananciais. Uma senhora relatou estranhos sintomas em seu filho de 8 anos: sem motivos aparentes, estando de pé, repentinamente o menino sofre quedas.

Há 11 anos, a mineradora comprometeu-se a recuperar o Rio Guamá, mas até agora, nada fez. A Noruega reconheceu a autoria da contaminação pela Hydro, inclusive por dutos clandestinos, mas a filial brasileira ignora e não se compromete a indenizar nem a recuperar as águas.

Quatro mulheres, cada uma a seu modo, lutam pelo direito à Vida, à água limpa para a população, água que no passado eram límpidas.