Em São Paulo – O espetáculo “Denise Stoklos em Extinção” poderá ser visto até o dia 18 de maio no Sesc Consolação. O espetáculo solo de Denise Stoklos é baseado no livro “Extinção”, do autor austríaco Thomas Bernhard, que apresenta uma obra demolidora das idéias sob valores conservadores de nossa sociedade e que a mantém negativa, limitando os espaços de exercício de liberdade e de amor.

O espetáculo apresenta textos de Denise Stoklos que, ao interpretá-los referindo-se ao mesmo ritmo vertiginoso, cruel e veemente do livro (lembra um contínuo Joyce, especificamente no monólogo de Molly Bloom) levará à proposta do autor de extinção dos pilares da sociedade capitalista: a família, a direita, e também a esquerda, por referência o Brasil, a idealização dos países do exterior como fuga, as demagogias de todos os lados até dos movimentos sociais, um desfazimentos dos símbolos sagrados (da cruz à suástica) às redes sociais e sua mistificação de valores, a pretensa solidariedade que é questionável quando há tal estratificação de classes sociais, o racismo instalado, a intolerância a todas as modificações, os lugares-comuns que fazem verdadeira devassa no criativo, o império do marketing implodindo a classe artística, e uma autocrítica como performer (processo já iniciado em “Olhos Recém Nascidos”).

O espetáculo é uma idéia de dissolução de tudo, absolutamente tudo que está mantendo o estado de coisas (a censura, os desastres atrás do sexismo, o politicamente correto). Às vezes a crítica é centrada no próprio acontecimento, o teatro, quando a platéia é demolida porém o palco se salva, em papel narcisista ou quando pratica uma estética vazia e para nada, ou reflexo de estética importada e alheia, e comunicação ilusória, agradando mas não transformando a platéia (imolando sua razão primeira de atender ao teatro).

Com recurso visual a favor de colaborar com o trabalho interpretativo, mas sem ofuscar a figura da atriz privilegiando o diretor. Na própria ambientação cênica a tradução de um aniquilamento de tudo, tudo, tudo inclusive do que possa ser uma boa atriz, também do que possa ser um bom patrão, um bom empregado, uma boa tio, um de bom lado das opiniões – sempre espelhado na ideia literária de Thomas Bernhard.

Detonar a supremacia da propaganda em ditar o que a nação quer, o que o eleitorado pensa, expor políticos de todos os partidos, uma varredura sem clemência. Expor a posição dos executivos que vendem seu know-how de um país por meros lucros pessoais, a exploração dos bancos e seus sistemas de créditos humilhantes, o comportamento da classe média que aparece no humor pré anal de alguns espetáculos feitos para vender, a sujeição dos atores jovens e dos de idade (com suposta carreira) ao sistema escravagista das televisões que contamina seus trabalhos para sempre, a submissão de alguns da arte em busca insaciável de aprovação de patrocinador e também do público para o sucesso cego, enquanto como cultivadores da mente precisariam estar livres para apontar. Encenar uma posição política radical no palco, (um Karl Valentin mas irado, um Brecht mas raivoso) neste momento específico de nosso país onde a lucidez provoca por Bernhard demonstra que sem extinção não se consegue uma nova etapa civilizatória.

Os ingressos variam de R$ 12 a R$ 40 e podem ser adquiridos nas Unidades ou pelo Portal do Sesc. (Carta Campinas com informações de divulgação)

Espetáculo solo livremente inspirado em “Extinção” de Thomas Bernhard

Direção: Denise Stoklos, Francisco Medeiros e Marcio Aurelio
Dramaturgista: Ricardo Goldenberg
Concepção teatral, textos adaptados, coreografia, sonoplastia e interpretação solo: Denise Stoklos
Cenografia: J.C. Serroni
Iluminação: Aline Santini
Vídeo: Leandro N Lima
Fotografias: Leekyung Kim
Sonoplasta: Aragonesco
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Direção de Produção: Luís Henrique Daltrozo (Luque)

Duração: 70 minutos.