“Em outros, no entanto, fica clara uma postura tendenciosa por parte da mesma, como quando vemos o personagem do ex-presidente (claramente inspirado em Lula) usando frases como “estancar a sangria” e “construir um grande acordo nacional”. Usar fala do notório diálogo entre Sérgio Machado e Romero Jucá como sendo de Lula é algo pra lá de desonesto, e isso é algo que deveria ser claro para pessoas das mais diversas visões ideológicas”.

Esse é um dos trecho do texto do crítico de cinema Lucas Salgado, no site AdoroCinema. O crítico expôs a desonestidade intelectual do diretor José Padilha, que já tinha indicado essa tendência em Tropa de Elite, um filme de inspiração fascista.  Salgado só não notou, na crítica, que isso foi totalmente proposital, faz parte do marketing cínico com que Padilha promove seus filmes, ao mesmo tempo em que expressa sua filosofia de vida.

Para o crítico, a equipe do filme tenta vender a ideia, mais chavão impossível, de que todo mundo é desonesto e compara a desonestidade do agente público ou de um representante eleito com um sujeito particular no cotidiano. Joga tudo num balde só e culpa o adolescente que pula catraca de um ônibus, que burla a carteirinha de cinema com o agente público que destrói uma nação inteira, sem qualquer referência à função na responsabilidade social. Ou seja, para Padilha o estupro, o latrocínio e o homicídio têm o mesmo peso que o sujeito que acha um dinheiro no chão e leva para casa.

O crítico Lucas Salgado é bastante ponderado e sério, mas não deixa pedra sobre pedra e desmonta o trabalho manipulado do diretor José Padilha. Veja mais alguns trechos da crítica:

“o diretor demonstra uma insegurança já tradicional, apelando para o mesmo voice over dos trabalhos mais famosos”

“Mas se por um lado a série acerta ao criar policiais complexos e interessante, escorrega na figura idealizada do juiz Rigo (obviamente Sérgio Moro). Aqui, não há de se fazer uma análise da pessoa real do juiz, mas o visto na ficção é absolutamente superficial.”

” Mas ao mesmo tempo, o roteiro trata de prejudicar tal personagem com uma trama envolvendo um relacionamento instável, algo previsível e desinteressante”.

“Nova série brasileira da Netflix, O Mecanismo passa boa parte de seus oito episódios tentando se vender como isenta. E se você precisa falar tantas vezes que é isenta, bom sinal não é.”

“Colunista político de um jornal, Padilha talvez seja muito próximo do assunto para tratar do mesmo. Na verdade, acho que qualquer pessoa no Brasil hoje é muito próxima do assunto. Não há um distanciamento do processo e quase nada está transitado e julgado. Assim, a série vende verdades que podem não existir em pouco tempo. Isso sem falar das que nunca existiram.” (Veja a crítica integral no AdoroCinema)