Dizem que fofoca não fazem mal a ninguém. Mas isso não vale para o ex-presidente Lula.

As fofocas contribuíram para a condenação de Lula  a 12 anos e um mês de prisão, nesta quarta-feira, 24 de janeiro.

As provas contra Lula foram uma enxurrada de fofocas e atos totalmente pertinentes ao presidente da República, ou seja, fazer política para poder governar o país.

No caso da corrupção da Petrobras, parte tratada nesse texto, o desembargador relator João Pedro Gebran Neto, do TRF-4, fez um arrazoado de fofocas e relatos de que Lula teria indicado, ou teria costurado a indicação de tal ou qual diretor. Ou seja, Lula é acusado de fazer política. Ao analisar a fala do desembargador, nada sobra. Se alguém duvidar, vá mais abaixo que tem o vídeo para se comprovar.

Essas mesmas fofocas e acusações fazem parte do jogo político e democrático. Elas são acusações que foram feitas por adversários políticos de Lula e pela própria imprensa durante vários anos. Até aí tudo bem, mas agora virou peça condenatória. O próprio Gebran reconhece em determinado momento da fala que são frágeis. Sim, Gebran reconhece que nada há para condenar ‘separadamente’. É inacreditável.

A tese é fabulosa e nega completamente a política. É uma tese de adversário durante uma disputa eleitoral, não de um tribunal. É vergonhoso o voto de Gebran. Lula é condenado por tomar ciência de indicações na Petrobras como presidente da República e foi eleito justamente para isso, para tomar decisões. “Episódios como a nomeação de Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Jorge Zelada entre outros não deixam margem às dúvidas de sua intensa ação dolosa no esquema de propina”, diz inacreditavelmente o relator Gebran.

Veja os trechos em que Gebran cita o ex-presidente Lula no caso da acusação relacionada à corrupção na Petrobras, conforme a fala de depoentes. É algo inacreditável um político ser condenado por essas frases:

“A atuação do apelante Luiz Inácio Lula da Silva decorreu do amplo apoio que deu para o funcionamento do sistema ilícito para captação de recurso com a interferência direta na nomeação de dirigentes da estatal” (Opinião)

“é cristalina capacidade de influência do ex-presidente no processo de nomeação dos agentes políticos na Petrobras e sua ciência a respeito do esquema criminoso”, diz Gebran para convencer a si mesmo. (‘Cristalina’ é um adjetivo que não prova nada, mas usa da retórica para convencer o interlocutor)

Na ocasião ele foi informado que o presidente Luiz Inácio tinha conhecimento” (Fofoca)

“Assim foi nomeado diretor da BR Distribuidora, segundo informações que lhe foram repassadas então por José Eduardo Dutra seria do conhecimento do então presidente Lula”(Fofoca)

“Não passa desapercebida, portanto, a capacidade de influência do ex-presidente no processo de nomeação dos agentes políticos da Petrobras e sua ciência a respeito do esquema criminoso” (Ação como líder político)

Episódios como a nomeação de Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Jorge Zelada entre outros não deixam marge às dúvidas de sua intensa ação dolosa no esquema de propina” (Indicação ou nomeação é prova de um crime!)

“E aí ele diz, eu não participava das reuniões, o meu depoimento é um depoimento político…portanto se não me contassem as conversas do Palácio do Planalto eu sabia por outras vias sempre”.(Fofoca)

Em certo momento, Gebran reconhece que não tem provas e faz malabarismo para condenar Lula e tenta remediar: “Se tomados separadamente, cada um desses depoimentos podem parecer frágeis”,  afirmou João Gebran.

“Ja tínhamos acertado que a indicação seria nossa,… e isso ficou definido que o presidente Lula chegasse a uma conclusão nisso. Isso estava demorando 6 meses. Nós fizemos uma obstrução na Câmara,(chantagem) estávamos sendo enrolados, não saíam as nomeações. José Dirceu disse que não poderia resolver isso, que precisaria de conversar com o presidente Lula” (Após a chantagem política de bloqueio na pauta da Câmara, Lula teria exigido a nomeação de Paulo Roberto Costa). São palavras do Pedro Corrêa. A nomeação ocorreu. Nós desobstruímos a pauta, e as coisas começaram a tramitar”. (Presidente é culpado por resolver uma chantagem política de uma partido aliado)

O único depoimento que fala em propina do presidente Lula, justamente o inocenta: “Asseverou desconhecer que o então presidente Lula tivesse pedido propina, embora narrasse a sua intensa participação nos negócios da estatal”. (Indício forte de inocência de Lula)

“Isso foi na reunião do conselho, Gabrielli (ex-presidente da Petrobras na época) me disse que o presidente Lula tinha dito: “ó não tem como, o Cerveró terá que ser substituído” (fofoca)

“E ele falou(…) ontem o Lula já acertou, você vai hoje, vai ser indicado” (fofoca)

É isso que teve contra Lula na primeira parte do voto de Gebran. É loucura total.