.Por Leila de Oliveira.

O ponto de vista  de que a política não é  para as mulheres, própria aliás do legado patriarcal, é assunto cujos efeitos não se limitam ao universo da vida pública. Diz  respeito à uma certa   ideia de um mundo  mais justo, fraterno e igualitário, a despeito da realidade de desigualdade de gênero que impera  como padrão na  sociedade.

No   mercado de trabalho, por exemplo,  essa diferença se faz notar na norma salarial, em média menor 25%  para elas, ante desempenho em  função similar a deles, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad).

A péssima resultante social  reflete, porém,  apenas   uma das facetas do problema. É convite à reflexão, por exemplo, o fato de as mulheres –  contingente estimado em 51,6%  dos brasileiros- ,  comporem como minoria acachapante em  setores importantes como a  política.

Na  Câmara Federal, por exemplo, mulheres   são somente  9% do total de 513 deputados. A situação é semelhante no  Senado e em todo o Brasil, onde para  cada sete vereadores homens, há  apenas uma vereadora mulher.

Informa-nos ainda  bastante sobre o   machismo arraigado, vetor de distorções como estas, consequentes que  nivelam por baixo a situação do  Brasil  no que refere à  violência doméstica, assédios, além de  preconceito e violações às liberdades individuais de um modo geral.

É em si um desafio, ainda,  o fato de que  não dá conta da  realidade  a  Lei nº 12.034/09, que impõe aos partidos e às coligações o preenchimento do número de vagas de, no mínimo, 30%, e, no máximo, de 70% para candidatos de cada sexo.

Em contraste a esse cenário, convém analisar à   luz clara dos fatos históricos a presença  protagonista, por vezes silenciosa,  assinalada pelas  mulheres   na longa jornada da humanidade em  combate às  desigualdades sociais, na  tarefa de   humanizar as prerrogativas do  poder e de engrandecer o  papel feminino através da  cultura e dos esportes,  entre outras áreas.

Fazem das mulheres  uma  agente de transformação dotada do raro  potencial de modificar de maneira significativa  o ambiente à sua  volta, simbolismos inerentes à  elas,  como  sensibilidade alinhada à  capacidade de agregar, de  implementar.

Ilustra  bem esse aspecto  a participação cada vez  mais ativa delas na  sociedade e à frente de inciativas de negócios   inovadores –  em meio à divisão de  atividades não remuneradas, como os  afazeres e cuidados domésticos- frise-se.  É legado que pressupõe a força necessária à  tarefa, que é de todos nós, de reverter a política de sua trajetória tortuosa para convertê-la  no melhor  motor do anseio de solução para questões essências à  vida dos brasileiros.

Nesse desafio, é indispensável que as   mulheres apoiem   umas às outras, rotineiramente. E não apenas  porque são do mesmo gênero, mas porque sabem que  deriva da  missão que as conectam a verdade inexorável de que um mundo melhor para as mulheres é também um mundo para todos.

.Leila de Oliveira  é jornalista formada pela Puc-Campinas.  Foi assessora de imprensa na Câmara Municipal, e atuou na comunicação de diversas campanhas políticas. Escreve para entidades sindicais, entre outros trabalhos. Apaixonada pelo universo feminino, acredita no potencial de transformação social da política.