As polêmicas manifestações contra a nudez nos museus e exposições de arte no Brasil comprovam que o país já vive um ambiente fascista, alertado por estudiosos desde o início do ano passado.

Manifestações de autoritarismo e fixação em relação à sexualidade juntos não é uma mera coincidência, mas uma relação estudada há quase 80 anos por um grupo de pesquisa nos EUA, conduzido por um dos mais reconhecidos pensadores da Alemanha, Teodor Adorno, referência nos estudos da Escola de Frankfurt.

A filósofa brasileira Márcia Tiburi relata em palestra (veja vídeo abaixo) que a pesquisa de Adorno sobre a personalidade autoritária dos anos 40 nos Estados Unidos tentava entender o potencial fascista dos americanos. A intenção dos pesquisadores era perceber se aquilo que estava acontecendo na Alemanha, o nazismo alemão, o ódio aos judeus, aos ciganos, aos negros, todo esse fascismo aterrador, teria potencial de acontecer nos Estados Unidos.

“Chegaram à conclusão que os americanos eram iguaizinhos aos alemães, eles seriam capazes das mesmas coisas. Eles chamaram então de Escala F, a Escala Fascista. Tentaram medir o potencial fascista; e aí o Adorno escreve dizendo assim: olha, tá surgindo, tem uma figura aí, que é um novo tipo psicossocial, que é o fascista em potencial. Ele não é fascista, fascista, fascista assim, tipo ‘vamos colocar os judeus em câmaras de gás agora, já’, ou ‘vamos botar os negros todos pra serem escravos de novo’ ou ‘vamos botar as mulheres tudo pra ficar tudo dentro de casa só parindo filho’(..) O Adorno coloca assim: o fascista potencial é aquele sujeito, por exemplo, com quem a gente não consegue conversar, porque o fascista em potencial já não gosta de uma conversa. Qual é o padrão de conhecimento com o qual ele se auto-organiza? O conhecimento paranoico, que é o conhecimento em que tudo tá pronto. E ele olha o mundo à luz da sua própria vida, então ele aprendeu, se ele teve uma religião, se ele teve uma família, se ele tá numa classe social, ele interpreta o mundo à base daquilo que ele experimentou“, relata.

Vale ponderar, diz Tiburi,  que a gente interpreta o mundo à base das nossas experiências mais básicas, mas existem experiências que permitem ampliar os nossos horizontes. “O fascista não gosta de ampliar os horizontes. Nunca. Então, por exemplo, eu noto muitos, muitos, muitos que têm ódio, por exemplo, do Jean Wyllys. É um negócio impressionante como a figura do Jean Wyllys desperta um ódio fascista. O que que tem no Jean Wyllys que as pessoas não gostam? O fascista potencial não gosta de alguém aberto pra conversa, não gosta de alguém feliz, não gosta de alguém corajoso, não gosta de alguém que mostra que o que ele pensa absolutamente não faz sentido. E não gosta, também, de saber que a sexualidade da outra pessoa deixa ela muito feliz enquanto que ele mesmo não pode ser feliz nessa seara”, compara.

Adorno percebeu já nos anos 40 do século passado que o fascista em potencial é hiperfixado em sexo. “Mas muito! Ele tá sempre preocupado. O paranoico tenta controlar o mundo. Então, se alguma manifestação de sexualidade não encaixa no paradigma dele, ele fica doido! Doido, óbvio, na base, ele tem um desejo mal resolvido, claro que sim, óbvio, e se a gente vai no Freud ele tá louco pra que o contato aconteça, na ordem daquilo que o Freud chamava de Inversão do Temor de Contato, ‘eu sou heterossexual, branco, europeu e tal e vou matar um gay, que é o único jeito que eu tenho de botar a mão nele. De pegar’. Desejo. Desejo mal resolvido vira ódio. Amor mal resolvido vira ódio mesmo“, analisa. Vale lembrar o caso de Ernst Röhm, homossexual e um dos chefes da S.A Nazista.

Tiburi recorda que nada que permita gerar questionamento é bem-vindo para um fascista. “Então a vida intelectual, as artes, ele não gosta, ele não gosta de nada que seja afetivo, porque tudo o que for afetivo vai machucá-lo, vai feri-lo, então ele não suporta”, afirma. Veja vídeo abaixo: