Em São Paulo – De 10 de Setembro a 18 de Dezembro, aos domingos, às 19h e segundas-feiras, às 20h, o Grupo Redimunho de Investigação Teatral apresenta o espetáculo “Siete Grande Hotel: A Sociedade das Portas Fechadas”. O espetáculo tem início no Espaço Redimunho de Teatro, sede do grupo, localizado na Rua Álvaro de Carvalho, 75, no Anhangabaú, e o segundo ato acontece nos porões do Hotel Cambridge, que hoje abriga umas das maiores e mais emblemáticas ocupações de moradias da região central, onde também foi rodado o filme ‘Era O Hotel Cambridge’, da Eliane Caffé.

Sempre palmilhado pelo horizonte da travessia, uma vez mais o Grupo Redimunho expõe a substância do seu teatro em meio a um novelo de estórias, interrogações e potentes fragmentos de um mundo cujo rosto se perdeu ou não podemos reconhecer. De perdidos e achados também se compõe a narrativa de labirintos que o novo espetáculo Siete Grande Hotel: A Sociedade das Portas Fechadas apresenta.

“Labirintos não porque sejam tortuosos e destinados aos tantos muros sem-saída do nosso tempo, mas porque traçam, ou refundam, o sinuoso caminho dos rios ao alimentar cada membro do Grupo com anônimas trajetórias alheias, as mais confiáveis para interrogar nossa história de espelho partido. Talvez, mais do que sinuosos, sejam subterrâneos, já que incorporam, também, muitas vidas andarilhas que, assim como a nossa, alcançou um lugar por querência e por ausência. São vidas também marcadas pelo impedimento que brotam do mundo contemporâneo de guerras, mascaradas pela distância, como se não soubéssemos reconhecer o sofrimento do outro traduzido na angústia cotidiana de assistir o horror que naturalizamos feito um ansiolítico que pudesse salvar a mudez e a dúvida de toda a nossa passividade”, anotam os integrantes do grupo.

“Siete Grande Hotel: A Sociedade das Portas Fechadas” apreende os caminhos de vidas esquecidas que ousaram e ousam percorrer o mundo contraditório da lembrança pelo esquecimento; mulheres e homens com a mesma sorte dos ventos, reinaugurando e refazendo essa ruína que é a memória, símbolo tão disputado pelos círculos de poder, que não se cansam de desenhar fronteiras com a velha trena de arame farpado. Siete são as muitas árvores decepadas que não se deram conta que a vida, maior que tudo, segue e seguirá fertilizando a esterilidade de alguma esperança. Siete é um desafio ao sorriso sórdido do que há de treva no século XXI, treva que pensávamos soterrada mas germinou sob o signo do equívoco e do medo. Siete armou-se de estética e ética, contra a farsa. Siete, brotado, vem à tona para jorrar.

“Estávamos no dia 1º de setembro de 2016, em meio a leituras e estudos de Siete — discutindo Primeiras estórias e A condição humana — imbuídos da esperança que todo auspício de Primavera traz. Ouvimos o primeiro estrondo, ainda distante, e outros e mais outros numa sucessão indefinida que iam pontuando o ritmo de alguma ameaça crescente que se aproximava. Um coral difuso de vozes desenhava um som de multidão. As sirenes e bombas que se seguiram terminaram por confirmar que à porta do Espaço Redimunho onde estudávamos confluíam o protesto pacífico de estudantes perseguidos pela polícia militar que tentava dispersá-lo. O barulho já alcançava a rapidez e potência de onda, quando abrimos a porta e nos deparamos, na rua — a Álvaro de Carvalho, próxima ao Anhangabaú — com um cenário de correria, marcado pelas sirenes das viaturas e das bombas disparadas, colhendo os gritos de quem procurava, com urgência, proteção e abrigo entre nós, a primeira porta aberta que encontraram entre tantas outras interditadas com a cega rapidez do medo. Primavera com gás lacrimogêneo: um verso elegíaco nos escancarando a realidade enquanto o Redimunho acolhia os manifestantes desgarrados com uma fala entre o choro e a tosse, meninas e meninos cumprimentando-se numa doação de máscaras e vinagre: símbolo repetido de uma fraternidade que não se cansa. Quem pode desautorizar o discurso artístico que sempre nos deu a primeira interrogação, o primeiro espelho e a primeira arma? Siete nos mostrava sua primeira face, não a do embate entre um coro de reivindicações e as forças que a oprimem, mas a cara larga onde se inscrevem as interrogações e os oráculos dos nossos dias.
É difícil falar sem experiência, mas também não é mais fácil fazê-lo com o vivido à flor da pele: ambos exigem um tempo equilibrado entre o distanciamento e a urgência: distanciamento para compor a forma, e urgência para fomentar a coragem. Mas “Somos que vamos” nos lembra sempre o João de não se pegar. Daquela primeira porta aberta fizemos sete vezes sete até rodopiar o último parafuso e costurar o milésimo botão de cada engrenagem cênica, de cada palavra dramatúrgica, de cada borra de café, vestígio último da fala que nos dá alento. Lá fora, aqui dentro. Portão, portinholas, portais amplos e estreitos, alguns de transposição necessária, outros de terceira margem mesmo, de beiras de estradas, rios de curso perdido, de sede tomada gota a gota com afinco, ditos assim, em ritmo de canção, pra que não sejam esquecidos. “Trouxeste a chave?”

“Siete” abençoa e amaldiçoa o tempo, este nosso tempo, porque celebrar a vida é a conjugação primeira de ter os pés sobre o mundo, mas fazê-la sob condições tão adversas requer o exercício de esconjuros e exorcismos práticos, uma ordem de palavras e gestos frente à instabilidade das nuvens. De que outra forma as apascentar?
Os que conhecem os extremos da chegada e da partida sabem como chegamos até aqui. A geografia do teatro, assim como o sertão, é pasto que carece de fecho. Por isso estão fechadas, mas não trancadas a sociedade de portas de Siete Grande Hotel. São esculpidas. Melhor, foram treinadas em solipsismos, hermenêutica, anamnese, reminiscência, ontologia… esses seres paramentados de letras que escapam pela saliva de cada personagem em seu último ou primeiro dia, vale dizer, em sua eternidade. Que ninguém se preocupe. O concierge guiará a todos entre ladrões de santos e os mais lindos ratos do mundo. Quem já se perguntou sobre aqueles que tecem as bandeiras? Há também o encontro de hálitos difusos, soprados na lucidez tão calma de soldados agonizantes. Cozinheiros e seus banquetes de balangandãs, sim! A banda eterna de ritmo eterno e seus músicos de um exu veludo a contrapelo. Mágicos, primos em 3º. grau de Deus. E o amor, essa fera de penhascos que aceita toda cor com a qual desejamos pintá-lo: abismos que se beijam-envenenam com fé”.

Mais informações no SITE do grupo ou em sua página nas redes sociais. (Carta Campinas com informações de divulgação)

Sinopse reduzida 
Em ‘Siete Grande Hotel: A Sociedade das Portas Fechadas’, ao mesmo tempo em que uma ocupação artística revela uma ocupação real, por meio de sete jornadas que se entrelaçam em lugares inusitados, breves narrativas interrogam o mundo contemporâneo com suas belezas, guerras, violências, migrações e esperanças.

SIETE GRANDE HOTEL: A Sociedade das Portas Fechadas
Com o Grupo Redimunho de Investigação Teatral
Temporada de 10 de Setembro a 18 de Dezembro – Domingos, às 19h e Segundas-feiras, às 20h
Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia) | R$ 5 para moradores do entorno. 120 min. 14 anos. 30 lugares.
Ingressos Limitados – Reservas pelo telefone: (11) 9.7541.7077
O espetáculo têm inicio no Espaço Redimunho de Teatro, localizado na Rua Álvaro de Carvalho, 75, no Anhangabaú e o segundo ato acontece nos porões do Hotel Cambridge, parceiro do Grupo nesse novo projeto.

Espaço Redimunho de Teatro
Rua Álvaro de Carvalho, 75, Anhangabaú / SP.
Próxima a estação Anhangabaú do Metrô.
Tel: 3101-9645 – Estacionamento ao lado