Por Luís Fernando Praga

Ouviram que amar era pecado e amaram pouco, e desistiram cedo. Temeram os que amavam a seu lado e odiaram por sentirem medo. Formaram-se escravos e soldados de odiosos mais oportunistas; num mundo de valores deturpados, o bom senso partiu sem deixar pistas.
A história inverteu a ampulheta, o tempo semeou perdas e danos e, num simples passeio da caneta, veio o passado e devorou 100 anos. Perdemos lideranças naturais em troca de tiranos fariseus, desigualamos mais os desiguais, serviçais dos desígnios de um deus onipotente em sua falsidade: “Que o dízimo triplique e o ódio cresça!”, mas Deus só repetia: “Liberdade”; e eles ouviam: “Cortem-lhe a cabeça!
Uma certeza insana e pestilenta vazava por seus poros patriotas, porém, verdade alguma se sustenta, onde a justiça é paga e a lei são notas. Abriram mão da mão dos aliados, fartaram-se na fonte do perigo; numa batalha só de derrotados, o joio veio camuflado em trigo. O preconceito foi condecorado e a aridez humana ardeu a Terra, o dom de questionar foi decepado e a paz trocou de turno com a guerra.
Os pesadelos vinham na vigília, mas nos sonhos, com cores de aquarela, podíamos pintar a utopia em horizontes feitos só pra ela. Carregamos o peso dos enganos dos que se enganam repetidas vezes, até que despertamos mais humanos, nalgum futuro onde não fomos reses.
Libertos de uma antiga ignorância, o retrocesso resultava em nada, era o princípio de uma nova infância e a velha ampulheta foi quebrada. As ideias soltaram-se das folhas, o novo cobriu tudo feito lava e, sob escombros das nossas escolhas, uma esperança ainda respirava. O pensamento evoluiu de nível, o amor desatou nós que o ódio fez.
E esta esperança, linda e acessível, jamais se renderá à estupidez.