Em São Paulo – Até o dia 10 de setembro, poderá ser visto no Sesc Ipiranga o espetáculo “Kiev”, com direção de Roberto Alvim e dramaturgia do uruguaio Sergio Blanco. A peça cria uma reflexão sobre regimes políticos totalitários no centenário da Revolução Russa, de 1917. Livremente inspirada em “O Jardim das Cerejeiras”, de Anton Tchekhov, a montagem narra a história de uma família que retorna à Rússia depois do regime de Stalin, e encontra sua antiga casa prestes a ser demolida para se transformar no estacionamento de um shopping center. A piscina apodrecida, cheia de cadáveres de presos políticos, evoca os fantasmas do totalitarismo.

Em 1917, o partido Bolchevique, liderado por Vladimir Lenin (1870-1924), libertava o então Império Russo de um duradouro regime absolutista, representado pela figura do czar Nicolau II. O espetáculo “Kiev”, com texto do uruguaio Sergio Blanco e direção de Roberto Alvim, marca o centenário desse episódio histórico conhecido como Revolução Russa.

A revolução que originou a União Soviética (URSS) em 1921 foi uma tentativa de concretizar o comunismo, tal como proposto por Karl Marx (1818-1883) e outros filósofos socialistas no século 19. No entanto, a ascensão política de Josef Stalin (1878-1953) em 1927, três anos depois da morte de Lenin, representou não apenas o fim do sonho de uma sociedade igualitária como também o início do totalitarismo, uma das formas mais opressivas de poder.

Em plena discussão sobre o rumo das democracias e do próprio capitalismo nos dias de hoje, a montagem narra a história de uma família que retorna à Rússia depois do regime de Stalin, e encontra sua antiga casa prestes a ser demolida para se transformar no estacionamento de um shopping center, um dos maiores símbolos da sociedade de consumo. A piscina apodrecida, cheia de cadáveres de presos políticos, evoca os fantasmas do totalitarismo.

Inédita no Brasil, a obra de Blanco, publicada em 2004, é uma releitura contemporânea da peça “O Jardim das Cerejeiras”, do escritor e dramaturgo russo Anton Tchekhov (1860-1904). Na trama, a substituição da piscina de corpos por um centro do consumo simboliza uma espécie de amnésia coletiva, que faz com que os cidadãos apaguem a tortura, o assassinato e toda forma de atrocidade de seu passado, a ponto de negá-lo por completo.

A justiça social não tem espaço em sociedades como essa. A ideia da peça é criar uma espécie de síntese dramática da forma como as pessoas comuns lidam com os regimes totalitários do século XX, como a Ditadura Militar Brasileira.

“O objetivo de Kiev será o de revelar aquilo que permanece oculto: tornar visíveis aquelas imagens relegadas à obscuridade. Esse é também o objetivo de minha obra como um todo. Minha arte poética consiste na necessidade de reivindicar a revelação do oculto, do inominável, do proibido, por meio do teatro”, define Blanco.

O drama histórico alcança dimensões trágicas, tornando-se fonte inesgotável para a reflexão. O elenco conta com a participação de Juliana Galdino, Marat Descartes, Otávio Martins, Filipe Ribeiro, Taynã Marquezone e Caio Daguilar, que, ao lado de Alvim, integram a companhia Club Noir.

“Kiev” é o primeiro trabalho dirigido por Alvim depois de “Leite Derramado”, que estreou no final de 2016, no Sesc Consolação, e passou pelo Rio de Janeiro, Santos, Curitiba, Recife, entre outras cidades do país. Inspirada na obra homônima de Chico Buarque, a peça recebeu indicações aos prêmios Shell e APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e foi eleita pelos jornais Folha de S.Paulo e O Globo como o Melhor Espetáculo de 2016.

O espetáculo terá sessões às sextas e aos sábados, às 21h, e aos domingos e feriado, às 18h. Os ingressos custam até R$30 e podem ser adquiridos nas Unidades ou pelo Portal do Sesc.

Além de assinar o texto da peça, o uruguaio Sergio Blanco ministra a oficina gratuita de dramaturgia “Considerações Sobre o Olhar” no Sesc Ipiranga, nos dias 9 e 10 de setembro, das 14h às 19h. Os interessados em participar da atividade devem se inscrever até o dia 2/9 pelo e-mail [email protected]. É preciso enviar nessa mensagem uma carta de intenção e currículo. Embora a atividade seja direcionada a dramaturgos, todas as pessoas interessadas pela escrita teatral podem participar (basta que tenham mais de 16 anos).

A partir da relação entre pintura, fotografia e arte teatral, a atividade discute os mecanismos iconográficos e verbais da representação. Será apresentado um conjunto de técnicas úteis para produzir imagens ou textos que permitam ao dramaturgo “mostrar” o mundo. (Carta Campinas com informações de divulgação)

FICHA TÉCNICA

Texto: Sergio Blanco
Tradução, Adaptação e Direção: Roberto Alvim
Elenco: Juliana Galdino, Marat Descartes, Otávio Martins, Filipe Ribeiro, TaynãMarquezone e Caio Daguilar
Cenário e Iluminação: Roberto Alvim
Trilha Sonora Original: LP Daniel
Figurinos: Cássio Brasil
Cenotécnico: Fernando Brettas
Fotos e Vídeos: Edson Kumasaka
Assistentes de Direção: Dug Monteiro e Bárbara Toledo
Produção: Dani Angelotti
Assistente de Produção: Cida Serafim
Realização: Club Noir e Cubo Produções

Duração: 1 hora
Recomendação Etária: 14 anos

“KIEV”
Sesc Ipiranga – Rua Bom Pastor, 822. Teatro (200 lugares)
Estreia: 04/08, 21h.
Temporada: 05/08 a 10/09, exceto dia 01/09. Sextas e sábados, 21h. Domingos e feriado, 18h.
Preços: R$ 30,00. R$ 15,00 (meia). R$ 9,00 (credencial plena).
Vendas: online a partir de 25/07, 18h. Nas bilheterias do Sesc em São Paulo a partir de 26/07, 17h30.

Oficina
“Considerações sobre o olhar”, com Sergio Blanco
Apoiada em sólido suporte teórico, a atividade aborda as relações entre fotografia, pintura e arte teatral para criar uma reflexão sobre os mecanismos iconográficos e verbais da representação. Esses são um conjunto de técnicas que permitem “mostrar”, descrever e escrever o mundo.
Quando: 9/9 e 10/9
Inscrições: é preciso enviar carta de intenção e currículo até 2/9 para o [email protected]. Grátis.
Classificação: 16 anos