Afora toda a desgraça que o governo de Michel Temer (PMDB) trouxe ao país, a começar por um golpe parlamentar em 2016, passando por terceirização total do trabalho, reforma trabalhista e tantos outros, surge dentro do atual governo a primeira crítica consistente aos governos petistas.

É tão consistente que a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que financiou o golpe com patos de plástico, é contra a mudança que o governo Temer vai implantar. Isso porque a solução dada pelo governo Temer deve ser trágica para o setor industrial do país.

O autor da crítica o secretário Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Mansueto de Almeida. Em audiência pública da comissão mista para análise da Medida Provisória (MP) 777, ele se posicionou contra o gasto de cerca de R$ 723 bilhões com subsídios para grandes empresas do setor privado em um período de 10 anos encerrado em dezembro de 2016. A conta só pega os governos petistas, mas esse subsídio sempre existiu e o PT apenas continuou e não fez as mudanças necessárias.

Para Mansueto de Almeida, não é uma política adequada conceder tal subsídio a grandes empresas. “[Parte do subsídio concedido] foi para empresas que não precisavam de ajuda nenhuma do setor público. Alguns falam que foi política industrial. Isso está equivocado”, declarou parecendo um secretário de governos progressistas.

Segundo o secretário, existem duas hipóteses de concessão de subsídios como política industrial. Uma, comum nas décadas de 50 e 60, é a concessão de subsídio a empresas de um determinado setor para que estas diversifiquem sua produção em interesse do país. A outra, mais contemporânea, diz respeito à concessão de incentivos a startups (empresas que buscam explorar atividades inovadoras no mercado) para ajudar principalmente pequenas e médias empresas.

“O Brasil não fez nenhum dos dois. Nós pegamos empresas muito grandes, que sabiam há décadas fabricar determinados produtos, e demos crédito subsidiado para se tornarem maiores e fazerem mais do mesmo. Isso não é política industrial”, declarou o secretário.

Por fim, o secretário defendeu que a aprovação da TLP (Taxa de Longo Prazo), que praticamente vai acabar com o subsídio de juros no BNDES. O problema é que o governo Temer fará terra arrasada. Vai acaba com a possibilidade de uma política industrial para quem realmente precisa de taxas subsidiadas, como as pequenas e médias empresas, principalmente empresas que buscam inovação tecnológica.

Representante do setor privado na audiência pública, o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz, criticou a proposta. “Não entendo essa posição do governo de maneira tão forte em um momento como este. O Brasil está na lanterna dos investimentos. É fundamental criar condições para a volta desse investimento. É um momento totalmente inadequado para se trocar TJLP por TLP”, afirmou.

A previsão é que a comissão mista que analisa a MP 777 vote amanhã (9) o relatório do deputado Betinho Gomes (PSDB-PE) sobre a proposta de instituição da TLP. (Carta Campinas com informações da Agência Brasil)