Por Verônica Lazzeroni Del Cet

Para o estudante do ensino médio, no Brasil, pensar no campo político é associá-lo, na maioria das vezes, à corrupção e à impunidade, o que tem provocado desinteresse e falta de participação.

Desejando mudar essa situação, além de tornar o jovem ativo na vida política, desde 2010 o Centro de Estudos e Pesquisas sobre Corrupção (CEPC) conta com um grupo de 20 voluntários que idealizaram e formaram o Projeto Política para Jovens. Todos os membros do grupo são estudantes – de diferentes cursos – da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e atuam no grupo levando o projeto para escolas públicas do interior do estado de São Paulo.

“O Projeto Política para Jovens foi criado com o intuito de levar conhecimentos sobre a estrutura política brasileira para alunos do ensino médio público da cidade de Franca, onde o CEPC exerce seus encontros e atividades”, diz Isabella Greco, 22, membro do projeto e estudante de Relações Internacionais.

O projeto tem o papel de exercício de atividade de extensão universitária, visto que é uma forma de oferecer à sociedade o que o os alunos aprendem na Universidade, segundo uma das entrevistadas e colaboradoras do grupo, Gabriela Campanhã, 22, estudante de Relações Internacionais.

Até o momento, o projeto já conseguiu atingir muitas escolas de Franca e todos os anos outras entram em contato com o grupo para também fazerem parte da iniciativa que não apenas pretende “trazer discussões que não se teria normalmente em sala de aula, mas também trazer fontes confiáveis e isentas de modo que os alunos possam buscar informações em lugares confiáveis”, diz Lucas Boscolo, 22, estudante de Direito e que ocupa o cargo de coordenador do grupo.

No decorrer dos anos, conforme o projeto se expande, expectativas e metas já foram alcançadas, assim como planejamentos para melhorias. “Dentro do desenvolvimento e aprimoramento do projeto, já desenvolvemos uma apostila didática para os alunos, e também já foi publicado um livro didático sobre a estrutura política brasileira”, conta Isabella Greco.

Aliado a isso, é intenção do grupo estender as discussões ao público que não está ao alcance das atividades, como exemplo, estudantes de cursinhos pré-vestibulares, ou jovens reclusos em casas de detenção, sendo que esse último grupo recebeu aulas em 2015, mas não teve continuidade, mesmo sendo um dos objetivos do projeto retornar ao espaço da Fundação Casa, de acordo com um dos atuais coordenadores, Lucas Boscolo.

O projeto também quer ampliar o alcance dos debates e atingir o Ensino Fundamental II, sendo esse um outro objetivo de todos os representantes que participam ativamente dos processos e atividades, inclusive no momento de ministrarem aulas aos jovens do ensino médio público.

Aos voluntários é oferecido, durante os primeiros seis meses de cada ano, reuniões de estudos quinzenais sobre o que será abarcado dentro das salas de aula, preparando o estudante universitário para o momento de ministrar a sua aula, de acordo com o coordenador Lucas.

O projeto também acaba fomentando, em sala de aula, discussões acerca de temas atuais da sociedade e que não estão diretamente ligados à vida política, mas que geram reflexões sobre a vida cidadã de todos. “Apesar do projeto focar na política, outros assuntos envolvendo questões de sexualidade e gênero aparecem nos debates, o que é extremamente positivo porque muitas vezes permite uma maior discussão do que é tido em outros ambientes”, diz Gabriela Campanhã.

O projeto na sala de aula

Organizar todo o conteúdo para ser ministrado em sala de aula pode ser desafiador ao grupo, mesmo contando com materiais didáticos elaborados pelo CEPEC e adotados para a hora de adentrarem no ambiente escolar e ministrarem os ensinos.

Ao todo são oito aulas oferecidas na escola pública aos alunos do ensino médio e que seguem uma divisão prévia e elaborada pelo projeto para facilitar a abordagem dos principais temas políticos. “Temas como corrupção, a separação dos três poderes, sistemas eleitorais, partidos políticos, formas de governos, Estado democrático de direito entre outros temas. O grupo entende que estes temas são necessários para uma compreensão mais profunda do nosso sistema político”, conta Lucas Boscolo.

Apesar do projeto contar com somente oito aulas, já é considerado um número expressivo para conseguir mudar o interesse do aluno pela vida política, já que o sistema de educação pública brasileira reserva um pequeno ou quase nulo espaço para o debate político. “As escolas fazem seus currículos baseados ou nas matérias que caem no vestibular ou não possuem um currículo além do previsto pelo MEC”, afirma Lucas.

Recepção do Projeto de Política para Jovens

Como o intuito principal dos vinte voluntários é atender aos estudantes e provocar neles motivação para participarem da política, a recepção dos alunos que recebem o projeto em suas escolas é fundamental e demonstram diversos resultados satisfatórios e que reafirmam a capacidade do CEPEC.

O interesse do aluno inicialmente pode ser praticamente inexistente e quase todos os participantes membros do projeto têm essa primeira impressão. “Inicialmente, muito provavelmente pela falta de debate sobre o assunto ao longo da vida escolar e nos núcleos sociais dos jovens, muitos alunos não demonstram interesse pelo assunto da política em geral”, conta Isabella Greco.

Mas com o trabalho realizado pelo projeto isso tende mudar não exclusivamente a motivação, mas também a capacidade de estimular os estudantes a desenvolver o senso crítico sobre assuntos políticos em geral e assim “fazer uma análise mais consistente sobre o cenário político atual, seus desdobramentos, e inclusive de ser um agente de cobrança e interventor capaz de mudar ou contribuir para a mudança não apenas do cenário político como também de sua realidade como cidadão’, diz Isabella.

Indo ao encontro das conquistas e desempenho dos voluntários, ameaças existem para toda e qualquer boa iniciativa educativa e de cidadania. Mesmo o projeto sendo apartidário e não doutrinário, questões como “Escola Sem partido” radicalizam e colocam diante de duvidosos olhos as atividades do Projeto Política para Jovens. Mesmo apartidários, os integrantes do CEPEC não omitem o agravante que a iniciativa teria e provocaria em um contexto onde já existe falta de interesse para discussões sobre política. “Quanto mais tentamos afastar os jovens de discussões políticas, mais dificilmente será para estes desenvolverem um senso crítico sobre o assunto e menor será sua participação cidadã”, conta Isabella.

Lucas Boscolo ainda acrescenta um outro ponto importante e que demonstra também um dos objetivos do projeto ao trabalhar com os jovens. “Acreditamos que se um jovem possui condições de escolher o próximo presidente do Brasil ele possui também condições de ouvir pontos de vista diversos e optar por aquele que mais de alinha ao seu ponto de vista. Nossa democracia se baseia nisso, porque a educação não deveria basear-se também”.