Por Eliana Mônaco

Houve um tempo em que haviam muitos deuses e deusas. Eles eram representados por imagens diversas e suas representações traziam muitos simbolismos e mensagens ocultas.

Esse é o caso das deusas-anciãs Baubo (Grecia) e Uzume no Japão. Ambas remontam de muitos séculos atrás.

Baubo era representada por um corpo robusto, como a maioria das deusas da antiguidade e tinha a cabeça em cima de seus órgãos genitais. E ela sempre fazia referência a eles quando entrava em contato com outras mulheres, levantando a saia e mostrando a vulva.

Seus ritos tinham dança e tambores. Mas o que Baubo queria transmitir às mulheres com seu gesto despudorado? Segundo estudiosos da mitologia, esse gesto teria a função básica de levar o riso à uma situação difícil. Tal gesto e o riso que provocava restaurava o poder da deusa mãe de nutrir e trazia, além disso, um raio de sol de volta ao mundo. Não era o riso hostil do ridículo, nem o riso abafado ante a uma obscenidade. Algo mais profundo e mais significativo revela-se aí.

Mulheres que se sentem à vontade consigo mesmas, riem muito quando estão juntas, especialmente quando chegam à maturidade. Em The Metamorphosis of Baubo, Wimfred Milius Lubel observa que as referências à deusa Baubo sempre vêm repletas de humor, com combinações de ironia, compaixão e fruto da experiência comum às mulheres, compartilhada….é o sagrado riso do ventre.

Baubo captura o espírito de anciã das mulheres, que é terreno, engraçado, solidário e essencialmente sábio. É geralmente através do riso que compartilhamos a coragem e o reconhecimento de que somos sobreviventes. Ao rirmos juntas, confirmamos nossa força.

As piadas de Baubo, assim como seus gestos, são obscenos e viscerais e podem surgir em meio ao desastre. Aí começa o processo de cura. A raiz do gesto é encontrada no período pré-patriarcal, como um lembrete sutil, quando a zona púbica da deusa era o portal sagrado de onde surgia a vida e o triângulo invertido era o símbolo sagrado.

Ela foi encontrada em artefatos desde o período paleolítico até a Idade Média, na Antiga Europa e Egito, passando pela Sibéria e chegando às Américas. Baubo é irreverente e sagrada! Aparentemente, Baubo teve uma participação ativa nos Mistérios celebrados em Elêusis, noroeste de Atenas, durante dois mil anos até que seu santuário fosse destruído em 395.