Por Jéssica Teles

Sou enfermeira, cursando obstetrícia atualmente, inclusive retorno na semana que vem pra concluir minha residência. Durante os estágios, sempre me identifiquei com o período puerperal porque via que era o momento mais delicado de todo o processo da maternidade, principalmente nas questões de aleitamento materno.

Me engajei nessa área que acabou se tornando minha paixão e, ao mesmo tempo, meu maior medo. Sempre quis muito amamentar, mas por ver tantas dificuldades das mulheres tinha muito medo de não conseguir. E aí eu engravidei. Se antes eu já buscava informação, na gravidez eu respirava pesquisas sobre amamentação.

No meu último mês antes da licença maternidade fiquei no alojamento conjunto de uma maternidade em SP exclusivamente orientando aleitamento materno. Isso tudo tentando me empoderar pra quando meu momento chegasse. Aí Lucas nasceu, em casa, empelicado, um parto lindo, com 4220g.

Tentamos colocar pra mamar na primeira hora, ele deu umas poucas sugadas e nada. Mas até aí, tudo bem, eu fiquei tranquila. Porém, várias vezes seguintes ele não pegava, chorava, brigava. Eu não tenho mamilo protruso, o que dificultou muito no início. Comecei a ordenhar e oferecer leite no copinho, enquanto insistia nas tentativas de acertar a pega, sem sucesso.

Na visita da parteira do segundo dia, ele tinha perdido mais de 500g de peso, estava desidratado, e eu me senti a pior mãe do mundo, além de uma péssima enfermeira. Ouvi coisas horríveis, ouvi que estava tentando matar meu filho, que eu não tinha leite suficiente porque na nossa família ninguém amamentou, que era pra eu parar de insistir porque estava fazendo mal a ele.

Mas meu marido ficou firme e disse que eu só precisava me acalmar que ia ficar tudo bem, que a gente ia conseguir juntos resolver tudo isso, que era só uma dificuldade de adaptação. A pediatra, no 3° dia, foi maravilhosa, também incentivou continuar o aleitamento exclusivo mesmo com a perda de peso, pois ele já tinha parado de perder e não estava mais desidratado. Me ajudou com a pega e, ao chegarmos em casa, ele pegou o peito pela primeira vez.

Mesmo assim, por medo, eu ordenhava a cada 2 horas e oferecia, mesmo nas madrugadas, achando que ele perderia peso. Isso porque eu sempre tive MUITO leite. Eu chorei muito quando ele pegou, fiquei extremamente feliz, e por isso acabei não prestando muita atenção na dor que sentia, achei que o importante era ele mamar.

A pega estava errada e logo meus mamilos estavam feridos, eu não suportava a dor, chorava a cada mamada, mordia um pano pra aguentar. Pedi socorro pra uma professora especialista em aleitamento materno, que me orientou a usar uma placa de hidrogel entre as mamadas pra aliviar um pouco a dor e drenar as secreções da ferida, o que ajudou muito!

Acertamos a pega com uns 20 dias de vida, tudo certo! Aí apareceu um ducto entupido. Era outra dor insuportável. O mamilo feriu de novo, eu não aguentava mais. Meu sonho de amamentar se esvaía a cada mamada. Implorei pro marido comprar mamadeira porque eu era fraca e não ia conseguir.

Ele me fez buscar ajuda novamente por saber o quanto eu sonhava em amamentar. Foi a melhor coisa. Tive novamente ajuda da minha professora e de uma amiga que veio na minha casa. Resolvemos o ducto entupido e, pela primeira vez, não senti dor.

Isso foi um dia antes dessa foto (acima). Essa foto foi de um ensaio de amamentação que fizemos a pedido de uma amiga fotógrafa. Pra mim, essa foto marca minha vitória contra tudo o que deu errado no começo e mostra minha superação. Confesso que só consegui porque meu marido não fraquejou r confiou no poder do meu leite.

Mesmo assim, quando ele passou a ganhar o dobro de peso esperado, ouvia que ele estava muito magro, que eu precisava dar outro leite, entre outras coisas. Mas seguimos em aleitamento materno exclusivo. Ele está hoje com 5 meses e meio, e eu retorno na próxima semana ao trabalho. Estou fazendo estoque de leite pra ele continuar mamando durante o dia aos cuidados do pai dele, e vou manter o aleitamento por quanto tempo ele quiser.

É só mais uma coisa a superar. Hoje em dia, como forma de empoderar outras mulheres, criei uma página no Facebook onde compartilho minhas experiências com o aleitamento materno e com a maternidade, informações que possam ajudar mulheres com possíveis dificuldades, informações sobre o retorno ao trabalho e como manter a amamentação, e pretendo me formar logo na residência para me tornar consultora de aleitamento materno.

Participo de grupos de mães nas redes sociais e, sempre que posso, ajudo mulheres com dificuldades tanto na internet, quanto pessoalmente. Eu tento passar a informação de uma forma fácil de entender, pra todas terem acesso e compartilharem com suas amigas. Amamento em lugares públicos como forma de naturalizar esse ato, e posto nas redes para estimular outras mulheres a fazer o mesmo.

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