Por Luís Fernando Praga

Eu vivo dizendo que precisamos de união para reagirmos aos desmandos políticos a fim de atingirmos uma ampla e plena prosperidade social, mas, na hora de unir, sempre me posiciono à esquerda das pessoas de bem. É como se eu, sendo uma pessoa do mal, não lutasse pela união que tanto prego. Então quero explanar os pontos em que estou disposto a me unir às pessoas de bem:

  • Na luta pela justiça.

Mas luto por uma justiça que corrija as injustiças seculares que já temos, não pela justiça dos xerifes autoritários, historicamente tiranos, corruptos e oportunistas.
Não lutarei por aquela justiça amparada, conduzida e muito bem paga por partidos e grupos políticos e econômicos, que só atende aos interesses de quem a patrocina e que despreza os apelos de pelo menos metade do Brasil.
Não lutarei por nenhuma justiça hipócrita que não priorize corrigir a desigualdade social de nosso país.
Não alinharei meu discurso ao de quem pede punição sem prova, sem julgamento e sem condenação. Isto não é justiça e a história mostra que tais caçadas ensandecidas só privilegiam as elites e sempre representaram o retrocesso das sociedades.
Não lutarei por nenhuma justiça que não se esforce em corrigir a incalculável injustiça de nosso sistema penitenciário, que joga gente pra debaixo do tapete, como lixo, e as mantém esquecidas como se não fossem gente.
Quero a justiça de poder contar, no seio de nossa sociedade, com o conhecimento, a humanidade, a força de trabalho e o amor destes tantos seres humanos, negros e pobres, encarcerados pelo mesmo sistema judicial que mantém livres todos os corruptos, assassinos e traficantes que comandam as altas esferas do poder. Seria bom me unir aos que percebem que o ato de prender alguém torna pior a vida deste indivíduo e uma série de vidas que orbitam ao redor da dele. Famílias sofrendo, aflitas e marginalizadas pela ação desta justiça, bem suspeita, que conhecemos, não podem ser algo positivo para nenhuma sociedade.

  • Na luta contra a corrupção:

Mas lutarei contra suas raízes, enterradas no solo da desigualdade social, adubadas de hipocrisia e crescidas na ignorância. Raízes que sustentam o tronco de uma sociedade odiosa, sedenta pelo lucro e mesquinha, que só permite “prosperar” gente gananciosa em busca de vantagens nascidas do prejuízo de inocentes.
Nesta luta eu prefiro ver TODOS os grandes corruptos da nação, revelando seus esquemas, devolvendo o que nos devem, esclarecendo seus interesses e suas ligações, internas e externas, a vê-los presos.
Que sejam afastados do poder, mas não de nossas vistas. Não vejo justiça, e sim vingança e hipocrisia em aprisioná-los e esquecê-los em masmorras bolorentas, enquanto outras figuras nefastas ocupam suas posições corruptas, previstas pelo sistema corrupto, e continuam nos roubando e enganando.
O que eu disse vale para TODOS os grandes corruptos, e todos são todos, mas apenas uma justiça isenta dirá quem são todos; e não existe justiça isenta neste momento no Brasil.
Justiça isenta é pleonasmo e, se não existe justiça isenta não existe justiça neste momento no Brasil. Que minha consciência me torne justo, que eu lute ao lado das consciências justas e que nossa justiça não deseje a morte ou o mal de ninguém. Não se pode ser cruel e justo ao mesmo tempo.

  • Na luta pela educação:

Mas lutarei por uma educação que faça pensar, não por uma que faça decorar e aceitar. A educação que faz decorar e aceitar supõe que o que sabemos já é tudo de que precisamos saber, e, se fosse assim, não estaríamos desesperados em busca de uma saída para o caos social em que vivemos, não estaríamos buscando mecanismos para encontrar a felicidade que não temos.
Lutarei pela educação que fuja dos dogmas, das imposições e das regras criadas por gente que nem habita mais o mundo de hoje. Lutarei por uma educação que ensine os caminhos para uma convivência pacífica e não ensine o preconceito, que pense de forma sustentável o futuro do Planeta e de nossa espécie.
Lutarei pela educação que ensine que o conhecimento é direito de todos, não apenas daqueles que, por um ou outro motivo, arranjaram mais dinheiro.
Lutarei por uma educação que nos conduza à Liberdade; e não, a nenhuma escravidão.

  • Lutarei, enquanto houver um estado, para que ele seja laico.

Não é função do estado exprimir sua predileção por uma ou outra religião dentre as tantas que dividem a preferência de seu povo. Não é função do estado isentar de impostos instituições que arrecadam rios de dinheiro diariamente. É óbvio que isto representa troca ilícita de favores entre o estado e tais instituições, representa corrupção, disseminação de preconceitos, de ódio e a alienação popular. Desejo me unir àqueles que percebem que Deus não tem podido fazer nada a respeito desse descalabro.

  • Lutarei, enquanto houver um estado, para que ele cumpra com suas obrigações.

Mas minha luta será para que o Estado cumpra simplesmente a obrigação de zelar por seu povo, que não tem culpa de nascer onde nasceu.
Zelar pelo povo significa tratar a todos com o mesmo zelo e GARANTIR, com uma igual escala de prioridade, uma alimentação de qualidade a todos (nenhum indivíduo, nem mesmo um vagabundo, como certos congressistas, merece morrer ou sentir a dor da fome), saneamento básico a todos, moradia digna a todos, um sistema educacional inclusivo e de alto padrão a todos, um sistema de saúde digno e qualificado a todos e condições de mobilidade oferecidas de forma indistinta a todos.
Para isto, o estado deve estar disposto a abrir mão de garantir o caviar de políticos e lobistas, o filé, o champanhe, o cafuné e os auxílios-moradia, toga, alimentação etc. aos juízes e as isenções fiscais sem o menor fundamento às grandes corporações e grandes fortunas.

Desta forma me disponho a lutar ao lado da tão perfeita gente de bem que tanto bem tem feito a nosso país; entretanto, minhas limitações intelectuais e genéticas não permitem que eu me junte com gente que se acha mais gente que qualquer um, pois minhas tais limitações só me permitem enxergar a todos nós como seres humanos iguais.
Olhando mais de cima, de maior distância, nos vejo, a todos, como pequenos e inseguros ácaros que habitam a crosta deste Planeta, que vaga veloz pelo cosmo, sem que tenhamos nenhum controle sobre sua rota.
O mais poderoso entre nós também não passa de um ácaro, não possui maiores atributos nem é mais bonito nem mais digno de ser amado por um deus nem pode ter maior influência sobre nossos destinos que qualquer um daqueles outros ácaros.
Jamais me unirei a ácaros, ácaros como eu, falíveis, que se apegam a ofensas pessoais como argumentação. Prefiro manter distância de ácaro prepotente que xinga como quem diz bom dia. Não me unirei aos ácaros de bem que defendem o extermínio de outros ácaros.
Não lutarei ao lado de quem prioriza espalhar seu ódio e suas convicções excludentes pelo mundo dos ácaros.
Não estarei ao lado dos ácaros que sentem necessidade de ver outros ácaros em sofrimento e em situação menos digna que a deles.
Não comungarei a mesma luta com ninguém que deseje viver sob um regime que oprima nossas liberdades e não aceitarei, sem lutar, nenhuma violência imposta por um estado poderoso contra seu povo fatigado de sofrer.
Lutarei, sempre, pelo que me parecer o melhor para a maioria, mesmo que não seja o pensamento da maioria.
Espero que o povo se instrua adequadamente e perceba que somos maioria infinitamente superior àqueles ínfimos ácaros que, armados de canetas poderosas, armam a outros ácaros, menos instruídos, de cassetetes, balas de borracha, bombas de gás, sprays de pimenta, pistolas, fuzis, metralhadoras, tanques e aviões de guerra, mísseis e bombas nucleares, com o intuito de controlar a vontade das massas através da violência.
Nós somos muitos, muito mais que eles! Nós movemos o mundo deles, trabalhamos para lhes garantir regalias que os viciam em nos explorar, mas eles não são mais gente nem menos ácaros que nós.
Podemos largar as armas que eles colocaram em nossas mãos e trabalhar para mover o nosso mundo, sem ódio de ninguém, sem violência, sem exploração humana, sem escravidão ao dinheiro, sem os vícios do consumismo e sem que haja viciados a nos controlar. Evoluiremos naturalmente, em busca dos conhecimentos que nunca nos permitiram buscar.

Esta é minha luta; foi mal…