A busca por tratamentos à base de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos vem crescendo. Entre 2013 e 2015, a busca por esses medicamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) mais que dobrou: o crescimento foi de 161%, segundo dados do Ministério da Saúde.

Durante a segunda edição da Feira Nacional da Reforma Agrária, que ocorreu entre quinta-feira (4) e domingo (7), no Parque da Água Branca, zona oeste de São Paulo, havia barracas específicas só com produtos fitoterápicos. Assentados do MST em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia trouxeram essa produção com propriedades medicinais.

A barraca com fitoterápicos da Bahia é alimentada por um projeto que conta com assentamentos agroecológicos criados para produzir medicamentos orgânicos, sem a utilização de agrotóxicos. Danilo Oliveira de Araújo, médico do setor de saúde do MST no extremo sul da Bahia, faz parte do projeto chamado Saúde Popular e Agroecologia, realizado pelo movimento e a Fundação Fiocruz. “O mais importante do projeto é resgatar o conhecimento popular de utilização dos fitoterápicos e contribuir para fomentar a produção dos medicamentos. E para que se difunda a cultura do uso dos fitoterápicos para prevenção e tratamentos das doenças mais comuns.”

O médico ressalta a prevenção como ponto forte do tratamento com produtos naturais e conta que eles têm ação efetiva em diversos problemas de saúde. Com as viradas abruptas do clima, os resfriados e a gripe são muito comuns em todo o país, mas cada região usa um tipo de tratamento natural diferente.

“Os fitoterápicos têm uma questão cultural muito forte e varia de região para região do seu uso. Aqui em São Paulo vemos muito o uso do chá de guaco, que você prepara uma infusão e toma antes de ir dormir. Lá no Nordeste, eles utilizam muito a hortelã e o própolis para reforçar a imunidade no tratamento da gripe. E de uso nacional temos o limão”.

Adriana Medino, assentada do MST, explica os diversos produtos fitoterápicos oferecidos no estande de Minas Gerais na Feira. “É uma barraca onde vendemos os produtos que nós mesmos fazemos no campo: os xaropes, tinturas, escalda-pés. São os tratamentos que já fazemos para a gente mesmo. Nós não vamos à farmácia comprar uma medicação. Fazemos como os antigos, como minha avó fazia e tentamos passar de geração em geração para os nossos filhos”.

Adriana conta como as ervas têm propriedades usadas milenarmente. Para uma cliente que chegou para comprar produtos, ela explica o uso:”Essa é a gota digestiva para quando você come algo que faz mal. Daí você coloca três gotinhas e toma. É muito bom, um alívio e natural. Todos os medicamentos são orgânicos. Você pinga três gotinhas e toma””

Na barraca há também tintura de rosa branca que é usada no banho de assento, spray de tintura de arnica que serve para dor muscular e o Xarope multi-ervas com jatobá, guaco, poejo entre outras ervas usadas para gripes e resfriados. Tem também essenciais para aromaterapia, florais, pomadas de urucum, xaropes raros como o de umbigo de banana bom para asma e bronquite, segundo Adriana

Cosméticos

Além de medicamentos, há cosméticos naturais sendo vendidos durante a Feira. Os assentados do Rio de Janeiro trouxeram xampus, condicionadores, pomadas para rachaduras e sabonetes de erva-doce, linhaça, jaborandi, entre outros. David Luiz explica a origem dos produtos. “Tudo de base agroecológica, produtos naturais produzidos pelas famílias assentadas, pelo coletivo [do MST] de Saúde no Rio de Janeiro”

Suelyn da Luz, do acampamento Patrícia Galvão no Vale do Parnaíba de São Paulo conta sobre os ingredientes utilizados na produção dos desodorantes naturais na versão creme e líquida.”Os ingredientes você encontra em casa, a água mineral, o leite de magnésio, o polvilho doce, um óleo neutro, nesse caso utilizei o de girassol. As propriedade medicinais são as dos óleos essenciais”

Os produtos contêm lavanda e melaleuca e possuem propriedades cicatrizantes, anti inflamatórias, anti-sépticas e, segundo Suelyn, ajudam na hidratação, clareamento da pele e até na sudorese. “A produção é super caseira, faz muito anos que uso, mas produzi esses para a feira como um teste mesmo trabalhando com as mulheres e estou sentindo a aceitação do comércio”.

Plantas

Caso o visitante opte por ter a planta in natura há uma ampla oferta de mudas que variam de R$ 2 a R$ 10. Sanuza Motta, do assentamento Zumbi dos Palmares no Espírito Santo, conta quais plantas podem ser adquiridas na feira. “Temos poejo,usado como expectorante para crianças; hortelã miúda que é calmante e vermífiga, cana de macaco, bom para os rins; manjericão que além de condimento é ótimo para tosse, asma; alecrim que atrai prosperidade, tansagem que é um antiinflamatório natural, losna e boldo, bom para problemas estomacais”. Os produtos fitoterápicos variam entre R$ 3 e R$ 15. (Juliana Gonçalves-Do Saúde Popular)