Em São Paulo – Com concepção do Núcleo Artístico Società Anonima e dramaturgia, direção e atuação de Alvise Camozzi, Psicotrópico reestreia dia 12 de maio de 2017 na Oficina Cultura Oswald de Andrade (Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro), com entrada gratuita. O espetáculo é resultado de reflexões sobre a mobilidade contemporânea, a arte da atuação, as migrações e a memória. Por meio de diferentes narrativas e recursos cênicos (luzes, sonoridades, vídeos, quadros e esculturas), a performance recria a história de uma impossível volta para casa.

Substâncias psicotrópicas são aquelas que agem no sistema nervoso central e modificam a percepção do mundo, com efeitos alucinógenos ou estimulantes. O título do espetáculo remete aos deslocamentos espaço-temporais criados pelas narrativas ficcionais e auto-biográficas que conduzem a performance, entre o onírico e o hiper-realismo. O entrelace das diferentes narrativas se desenvolve de maneira a induzir, no espectador, uma espécie de desnorteamento, para deixá-lo livre para compor suas próprias ressignificações.

Psicotrópico é estruturado em cinco narrativas apresentadas numa rede de fragmentos organizados de maneira aparentemente aleatória, compondo uma partitura narrativa livremente inspirada ao sistema dodecafônico de Arnold Schönberg. Um imigrante que precisa retornar. Um artista perdido na floresta da criação. Uma personagem que morrerá antes do final da peça. Uma criança que faz uma pergunta difícil de ser respondida. Um ator, um atraso, uma viagem.

Os fragmentos ficcionais são atravessados por uma linha dramatúrgica alusiva ao clássico tema do “retorno ao lar” (o ‘nostos’ dos gregos), que por sua vez remete a experiências biográficas do próprio ator, nascido em Veneza: a volta ao lar original, e o retorno para a casa atual, nos Trópicos.

Psico, como alma e respiro, palavra antiga que dificilmente pode encontrar sua definitiva tradução moderna; e Trópico, etimologicamente “relativo a uma volta”, aqui pensada não somente como área geográfica e climática, mas também como lugar político, social e cultural.

O episódio biográfico central da narrativa é um atraso em uma viagem que impede o ator-narrador de acompanhar a morte de sua mãe e, posteriormente, de concluir um percurso artístico.

A tentativa de anulação da espera, se torna, dentro do espetáculo, o motivo recorrente que quebra e interrompe a narrativa abrindo ao público possibilidades de ressignificações, solicitando no espectador reflexões sobre a perda, a memória e as diversas condições do “estar no tempo presente”.

Na sociedade contemporânea, a espera pertence à representação quantitativa do tempo, à sua valoração de eficiência, à orientação baseada na programação do tempo futuro. O sujeito que aguarda/espera é deslocado de seu tempo; o lugar que habita é um ‘não-lugar’. Esperar é um problema da modernidade, do movimento perpétuo e rápido, das mercadorias e das pessoas, mas também das ideias, das palavras e das memórias.

O migrante é a figura social que habita esse ‘não-lugar’ contemporâneo. O ‘Ser migrante’ pode ser interpretado como condição universal do habitante do tempo presente. Respeitando as diversas e específicas experiências e realidades, todos somos desenraizados, e não somente porque viemos, muitos de nós, de outras cidades, estados, continentes, mas, principalmente, devido às grandes transformações às quais fomos condicionados, com uma velocidade tal que perdemos o senso de estar no tempo.

Nossa memória, por sua vez, é breve, relegada às máquinas; nosso futuro próximo tão curto, porque condicionado pelo lema da crise permanente, seja essa econômica, política, ética, climática – o que dificulta uma projeção distante de nossas expectativas e torna nosso presente fragilmente manipulável, como os valores de autonomia e independência perseguidos por todo o século XX que hoje declinaram massivamente, motivados por outros estímulos culturais, medidos por cotas de conquista e sucesso do indivíduo em detrimento da coletividade. (Carta Campinas com informações de divulgação)

Sinopse

O espetáculo é resultado de reflexões sobre a mobilidade contemporânea, a criação artística, a perda e a memória. De inspiração documental e auto-biográfica, a performance recria a história de uma impossível volta para casa. A sobreposição das narrativas reais e fictícias aos diversos recursos cênicos induz o espectador a experimentar um constante deslocamento da percepção dos acontecimentos, livre para compor seu próprio entendimento.

Ficha Técnica

Concepção: Núcleo Artístico Società Anonima/ Dramaturgia, direção e atuação: Alvise Camozzi /Colaboração: Daniela de Vecchi /Cenografia: William Zarella Jr. /Desenho de luz: Guilherme Bonfanti /Assistente de luz: Aldrey Hibbeln / Concepção de vídeos e mapping: Grissel Piguellem/ Sonoplastia: Gustavo Arantes a.k.a Dj Goonie/ Direção de produção: Rachel Brumana /Produção: Substância Produções Artísticas /Fotos: Matheus José Maria (espetáculo) e Zarella Neto (divulgação)

Psicotrópico
Reestreia dia 12 de maio de 2017
Até 27/05 com temporada às quintas e sextas, às 20h e sábados, às 18h.
Oficina Cultural Oswald de Andrade
Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro, São Paulo – SP,
Telefone: (11) 3222-2662
Capacidade: 40 lugares.
Duração: 60 min.
Classificação: 14 anos/ Grátis