Ainda final dos anos 90, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), fui fazer uma pesquisa em uma entidade de classe no Centro de São Paulo. Não havia empregos naquele período e o modelo de política de Fernando Henrique era parecido com o do Temer, mas ainda sem  a coragem que hoje tem o PSDB de propor legalmente modelos análogos à escravidão. 

Ao chegar no prédio antigo da entidade, um jovem de 18 anos trabalhava como ascensorista do elevador. Achei aquilo um absurdo. Seria mais inteligente automatizar o elevador, demitir o jovem e pagar para ele uma bolsa de estudo para ser um professor, um médico, um engenheiro, etc. Um jovem fazendo um trabalho desnecessário e sem estudar. Talvez passaria a vida ali, naquele sobe e desce estagnado do elevador.

É esse um exemplo bem simples e claro do modelo que está sendo implantado pelo governo Temer, como o protagonismo ativo do PSDB e dos meios de comunicação, como a Rede Globo.

Todas as medidas propostas e implantadas desde o golpe parlamentar de 2016 visam consolidar o Brasil como um país agroarcaico. Para isso, é necessário dizer que se gasta muito em educação. Então, impede legalmente que qualquer novo governo possa investir mais em educação, expandir e melhorar o sistema.

O modelo se fecha com as reformas trabalhista e da Previdência relatadas e propostas por parlamentares do PSDB. O objetivo é que as pessoas trabalhem por mais horas, por mais tempo de vida e fiquem sem horário ou mesmo condições físicas para estudar. Outras limitações jurídicas nas reformas vão fechar o ciclo ao retirar recursos dessa população trabalhadora, deixando mais exposta ao subemprego e empregos com baixos salários.

Esse modelo vai trazer benefícios medíocres para empresas que dependem de mão de obra sem instrução, serviços braçais. Vamos ter um verdadeiro exército de trabalhadores sem instrução para fazer operações básicas.

É um modelo agroarcaico como no período colonial, quando os empregos no campo exigiam o menor nível de instrução. No andar de cima, as leis não existem. Daí as dívidas colossais de mega empresas com a Previdência, o INSS, a Receita Federal, o Carf, etc. Uma espécie oligarquia coronelista no poder. O pequeno e médio empresário paga a conta junto com o trabalhador. Não é por acaso que a Rede Globo faz propaganda do agronegócio de forma deliberada.

Na cidade, os serviçais como mordomos, empregadas domésticas e outros também ficarão mais baratos e numerosos. Sem aposentadoria digna, idosos sem trabalho passarão a pedir esmolas pelas ruas. É o modelo chinês de mão de obra barata sem o projeto de nação da China, que absorve toda a tecnologia produzida no mundo.

O modelo Globo/Temer/PSDB é, sem dúvida, o pior dos mundos. O efeito colateral disso, nós já estamos sentido. Mais violência do tráfico que se consolida como alternativa de ascensão social. Mais violência policial para combater essa ascensão social heterodoxa das favelas e os protestos dos estudantes e trabalhadores, mais assassinatos de trabalhadores do campo e mais assassinatos de indígenas.

O projeto Temer, Rede Globo e PSDB é a criação de uma país repleto de ascensoristas em um período de automatização. Se aquele garoto de 18 anos estava condenado a ficar o resto da vida dentro de um elevador ou em empregos desqualificados, agora temos um projeto de nação condenada à desqualificação profissional de uma geração e à impossibilidade de ascensão social pela educação. (Glauco Cortez)