Criado pelo engenheiro civil pernambucano José Carlos Rodrigues de Melo na década de 80, o saneamento condominial pode ser a solução para tirar o Brasil da vergonhosa situação de falta de coleta e tratamento de esgoto. O sistema pode ser até 65% mais econômico que o tradicional.

O sistema, que chamou a atenção do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento),  já promoveu melhoria da qualidade de vida de mais de 5 milhões de habitantes espalhados pelo Brasil, Paraguai e Peru. O banco considera como uma grande solução para o problema da falta de água potável e esgotamento sanitário na América Latina.

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O BID está financiando o Projeto de Saneamento Ambiental de Ipojuca (PSA Ipojuca) com esse método. Cerca de um milhão de moradores da Bacia do Rio Ipojuca serão beneficiadas por esse método, que está em implantação em 25 cidades. Em Tacaimbó, por exemplo, o saneamento condominial está em fase de pré-operação. Localizada a 170 quilômetros de Recife, a cidade tem 8 mil habitantes e é considerada a mais pobre da região.

Segundo o gerente do Projeto de Saneamento Ambiental de Ipojuca (PSA Ipojuca), Sérgio Murilo Guimarães, 2,4 mil casas estão ligadas ao sistema de tratamento, o que gerou impactos positivos praticamente imediatos.

“O esgoto foi retirado da calha do Rio Ipojuca. Por conta de o rio estar seco, somente havia esgoto lá. Quando as casas foram conectadas à estação de tratamento, acabou o mau cheiro e os criadouros de muriçocas e de ratos e houve um ganho ambiental, pois o rio passa a ser despoluído. [Há] também um ganho na saúde,” diz Guimarães.

O PSA Ipojuca é feito pela Companhia Pernambucana de Saneamento Ambiental (Compesa) com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Técnicos da companhia fizeram capacitação durante esta semana para conhecer mais sobre a metodologia.

O sistema condominial se apoia, fundamentalmente, na combinação da participação comunitária com a tecnologia apropriada. Ele proporciona uma economia de até 65% em relação ao sistema convencional de esgotamento, graças às menores extensão e profundidade da rede coletora e à concepção de micro-sistemas descentralizados de tratamento.

O nome Sistema Condominial é em função de se agregar o quarteirão urbano com a participação comunitária, formando o condomínio, semelhante ao que ocorre num edifício de apartamentos (vertical); dele se distingue, todavia, por ser informal quanto à sua organização e por ser horizontal do ponto de vista físico.

Desse modo, a rede coletora básica ou pública apenas tangencia o quarteirão-condomínio ao invés de circundá-lo como no sistema convencional. As edificações são conectadas a essa rede pública por meio de ligação coletiva ao nível do condomínio (Ramal condominial), cuja localização, manutenção e, às vezes, a execução são acordadas coletivamente, no âmbito de cada condomínio e com o prestador do serviço, a partir de um esquema de divisão de responsabilidade entre a comunidade interessada e o poder público.

Para o gerente do PSA Ipojuca, o saneamento condominial é um caminho para a universalização da rede de esgoto. Em Pernambuco, a meta do governo do estado é que isso aconteça em 20 anos. Atualmente, o estado tem cobertura de rede de esgoto em 30% dos municípios.

“O Nordeste vive uma boa experiência na implantação de sistemas de esgoto a partir de recursos do governo federal e de organismos internacionais, aliado a obras de infraestrutura hídrica, como a transposição do Rio São Francisco e técnicas de reúso e redução de perdas”, diz Guimarães. (Carta Campinas com informações da Agência Brasil e do BID)