Por Guilherme Boneto

As paralisações e manifestações previstas para amanhã estão sendo anunciadas há semanas em todo o país. Alarmado com as consequências desse movimento, o governo federal fez todo o possível para acelerar a aprovação da reforma trabalhista e adiantar ao máximo a reforma da previdência, antes do dia 28 de abril.

Desdenhando abertamente de todos nós, a ponto de o bravo deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) subir à tribuna para pedir respeito à greve geral, a Câmara dos Deputados votou ontem e aprovou as mais de cem alterações que serão feitas na CLT. O fez, mesmo sabendo da insatisfação das pessoas e declarando o apoio da Casa ao presidente mais impopular da história do país, que nem eleito foi. Cabe aqui fazer uma pergunta: diante disso, qual é a solução?

Tenho a impressão de que as pessoas ainda não se aperceberam da gravidade das modificações que estão sendo feitas. Parece claro que o governo federal tem um objetivo a cumprir. Há algumas semanas, o presidente Michel Temer sancionou a lei que estende a possibilidade de terceirização a todas as atividades de uma empresa – na prática, o empregador pode obrigar o trabalhador a abrir uma pessoa jurídica para contratá-lo sem direito a férias, décimo terceiro salário e mesmo um salário mínimo. Não contente, o governo leva às últimas consequências os seus esforços para aprovar a reforma trabalhista, que modificará acordos, carga horária, demissões, homologações, participação de sindicatos em vínculos empregatícios, e dificultará a possibilidade de se acionar a justiça do trabalho.

O fato de esse projeto ter sido aprovado com folga na Câmara demonstra claramente o quanto aquelas pessoas estão em dissintonia com a sociedade brasileira. Numa piscadela, nos tiram as poucas garantias que nós temos. A equação é hedionda: querem nos obrigar a contribuir cinco décadas com a previdência, o que na prática inviabiliza completamente a aposentadoria, e somado, tiram de nós as proteções trabalhistas de que dispúnhamos. Temos que nos lembrar de cada um desses deputados e nunca mais permitir que tornem a representar seu povo no parlamento.

Nesse tocante, a mídia cumpre fidedignamente o seu papel de sempre ao se manifestar contra a greve geral. O editorial de hoje de certo jornal paulistano é a peça jornalística mais hedionda que eu já vi, ao declarar que os grevistas querem meramente esticar o feriado de 1º de maio – é mais que desonesto, é assustador.

É notável como o texto pinga de ódio, tal qual um cão raivoso. Acusa, no entanto, o medo que essas pessoas sentem da força da mobilização popular: eles estão apavorados. Monitoram com lupa as movimentações nas redes sociais para amanhã, e temem as consequências.

A greve geral é a nossa única esperança. É notável como a sociedade civil se mobiliza contra esse governo que trabalha tão abertamente contra o povo. Universidades e escolas cancelaram as aulas, empresas declaram apoio e fecharão as portas, as mais diversas categorias aderiram ao movimento e prometem travar aeroportos, portos, estradas e avenidas, bem como linhas de ônibus e metrô nas grandes cidades. O Brasil vai parar. O movimento é absolutamente necessário para que se resista aos retrocessos que querem impor a nós. A história de recordará de cada um que se absteve de lutar.

O governo precisa fazer a reforma trabalhista passar no Senado. Também não conseguiu ainda formar a maioria necessária para se aprovar a emenda constitucional que modificará as regras da previdência. Conseguirá fazê-lo com a mais absoluta facilidade, no entanto, se nós não nos manifestarmos. A única forma de impedir que essas barbaridades se concretizem é mostrando a eles que o Brasil pertence aos brasileiros. À luta!