Por Verônica Lazzeroni Del Cet

Milhares de jovens estudam muito e aguardam ansiosos por uma vaga em uma universidade pública do Brasil. Quando conquistam tal feito, conquistam a chance de se preparem profissionalmente, mas também têm a oportunidade de viverem diversos eventos oferecidos dentro ou fora do campus das universidades. Desde festas, workshops ou intercâmbios, o jovem na universidade pública se depara com muitas boas opções e novidades.

Entretanto, conforme o jovem se aproxima de grandes e imperdíveis chances, também pode vir a desfrutar de acontecimentos desagradáveis e que ameaçam sua segurança. As estudantes encaram riscos ao longo da graduação, visto que convivem com a cultura machista existente até mesmo na universidade.

Vítimas do preconceito e violência, muitas mulheres lutam há muito tempo por mudanças em nossa cultura. Em março, se comemora o Dia Internacional das Mulheres e iniciativas que buscam auxiliar alunas durante a graduação existem, como o coletivo IELas, formado por estudantes do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Criado efetivamente após a última greve da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – em maio de 2016 – o objetivo do coletivo não é somente empoderar a voz e a vez da figura feminina, mas também criar uma rede de apoio para as alunas do instituto que tenham sofrido qualquer tipo de violência (sexual, física, verbal ou psicológica), concedendo espaço seguro para o relato das vítimas e assim medidas efetivas e punitivas acontecerem dentro do campus da universidade.

“Além disso, procuramos gerar debates sobre temas que dizem respeito ao feminismo, e à vivência de cada uma, dentro e fora do ambiente acadêmico”, diz Júlia Benatti, uma das integrantes e colaboradora do coletivo IELas. Júlia ainda ressalta a respeito de quem pode estar participando do coletivo e frequentar debates que acontecem. “O IELas proporciona, primeiramente, acolhimento para as alunas de dentro e de fora do instituto, seja para as ingressantes ou para as que já têm mais tempo de curso”, acrescenta Júlia.

Em menos de um ano o grupo conseguiu concretizar medidas efetivas e que reforçam a segurança das estudantes no campus universitário. O coletivo adentra cada vez mais forte no meio acadêmico e gera já resultados significativos também em outras organizações estudantis importantes, como o Centro Acadêmico.

Uma vez que as denúncias feitas são anônimas, o coletivo consegue reunir testemunhos de vítimas de violência contra a mulher. “Até o momento nossa ação mais importante com certeza foi conseguir apoio de uma chapa que estava se candidatando ao centro acadêmico para desligar e afastar membros que possuíam denúncias”, conta Marina Russo, outra colaboradora e integrante do coletivo IELas.

Agindo em eventos de grande porte – como a calourada do IEL – o coletivo atua também para garantir um espaço seguro para as mulheres em festas organizadas pelo instituto, providenciando a não entrada de homens que tenham sido denunciados por alguma aluna. Os nomes dos homens foram coletados a partir de denúncias, e todos os que foram listados são acusados de praticarem atos violentos e machistas com frequência. “Elaboramos essa lista em uma reunião fechada do coletivo e conseguimos apoio do centro acadêmico para aplicar uma política de proibição da entrada de homens que tenham o nome nessa lista em festas do instituto”, diz Marina Russo.

Gerando efeitos positivos além do espaço do local de origem do grupo, o IELas proporcionou rodas de conversas com estudantes do IEL acerca de relacionamentos abusivos, durante o último evento do UPA (Universidade de Portas Abertas) em 2016. Tendo sido considerado pelo grupo um dos feitos mais relevantes até o momento atual, a roda de conversa se estendeu inclusive aos jovens de ensino médio que visitavam o Instituto de Estudos da Linguagem na data do evento. “Ambas as atividades culminam na troca de vivências que, em outros ambientes, não são comumente compartilhadas, proporcionando segurança e acolhimento de mulheres vítimas ou não de violência”, diz Júlia.

São medidas que intensificam a segurança de estudantes no meio acadêmico, embora enfrentam desafios. “Muitas vezes encontramos resistência e falta de apoio e compreensão dentre os próprios alunos do instituto, o que dificulta muito para que as vítimas consigam se pronunciar sobre os abusos sofridos”, conta Marina Russo.

Para as integrantes do coletivo, independentemente do tempo em que atuam no campus, direcionando esforços e espaços de diálogos, as atitudes e providências viabilizam a segurança, a confiabilidade, o apoio e a chance de empoderamento da voz feminina, além de reforçarem os direitos em denunciar abusos e atos de violência recorrentes, em uma cultura machista.