De voz delicada e palavra forte, Mel Duarte não separa o feminino de feminismo. O Sesc Campinas recebe a poeta e ativista para compartilhar suas obras no “Sarau Néctar” na próxima quarta-feira (22) às 20h, no Espaço Arena. A atividade é gratuita e o microfone é livre para quem quiser participar e declamar poesias.

Com poemas que falam principalmente sobre a realidade da mulher, negra e periférica, Mel não tem medo de dizer o que pensa e o que vive. Seja com ou sem microfone, suas palavras arrepiam qualquer um que tenha vivenciado o que ela diz. Em uma de suas obras, a poeta dá um recado para as mulheres negras e para quem reproduz o racismo:

“Preta, mulher bonita é a que vai à luta. Que tem opinião própria e não se assusta quando a milésima pessoa aponta para o seu cabelo e ri, dizendo que ele está em pé. E a ignorância dessa coitada nem a permite ver (…). É imponência. Porque cabelo de negro não é só resistente. É resistência”. Aos 28 anos, a paulistana já tem dois livros lançados: “Fragmentos Dispersos” e “Negra Nua Crua”.

De acordo com Mel, o gosto pela poesia surgiu quando ela ainda era criança. “Eu encontrei a poesia aos 8 anos de idade na escola e a partir daí eu comecei a me interessar pela leitura, pela escrita, e comecei a escrever sem nenhuma pretensão. Mas eu só fui conhecer o movimento do sarau com 18 anos. Uma pessoa me chamou pra um sarau e eu adorei. Até então eu não tinha conhecimento, não tinha muitas referências”, conta.

Depois do primeiro sarau, ela passou a frequentar mais eventos desse universo, principalmente na periferia de São Paulo, onde também começou a criar coragem para expor o que escrevia. “Eu lembro que a primeira vez que eu falei minha mão tremia, o papel tremia, mas é que a questão de você chegar na frente de pessoas e falar de um sentimento, de uma coisa tão pessoal, não é muito fácil. Mas eu queria participar daquilo, me ajudava a pensar. Na quebrada, num bairro da quebrada, fazer aquilo para mim era tudo”, lembra.

Por ter encontrado esse talento de forma tão casual, a poeta diz que se surpreende com o sucesso, principalmente entre os jovens. “A minha ficha só começou a cair quando eu vi que as pessoas estavam me ouvindo. Quando eu escrevo, eu não penso em onde isso vai chegar. É muito engraçado isso, a palavra vai muito longe e a gente não sabe como ela bate em cada um. Se eu fiz aquela pessoa sair do lugar, eu estou satisfeita. Eu faço muita apresentação em colégio, e, quando um menino na escola chega para mim e fala: ‘nossa, eu não sabia que o machismo era tão complicado assim pra vocês. Agora eu comecei a entender’, para mim isso já é tudo.”

Mais informações no Portal do Sesc. (Carta Campinas com informações de divulgação)