Por Luís Fernando Praga

Nalgum lugar ficou…
Como ir sem ela?
Perdi num destes passos pro passado,
Numa paisagem cinza da janela,
Nas cinzas de um mendigo já queimado,
Nos novos pobres da nova favela.
Na fé que violenta os meus ouvidos,
Num deus que é opressor e sexista,
No país dos valores corrompidos,
No escárnio do político golpista.
No hipócrita que rouba e vai à missa,
No ruir de meus sonhos mais antigos,
Nos últimos suspiros da justiça
Ou num golpe orquestrado por amigos.
Nalgum noticiário de mentira
Ou num bolso faminto de juiz,
Nos famintos à mira dos fuzis,
Ou nos lares cristãos que pregam ira.
Nos que mitificaram um covarde,
No povo bom que adora a violência,
Nos que temem a própria liberdade…
Perdi na sepultura da ciência.
Nos porões de um estado de exceção,
Numa poça de sangue de chacina,
Nas sequelas do estupro da menina,
Nalguma escola sem educação.
Ou entre um “teje preso!” e um “seje macho!”
Daquela brava gente, hoje tão mansa…
Não sei onde eu perdi minha esperança…
Antes do fim do retrocesso eu acho.