Por Guilherme Boneto

A prisão do empresário Eike Batista, na manhã da última segunda-feira (30), deixou o país inteiro em polvorosa.

Esperado pela polícia e por curiosos já no aeroporto, as filmagens de Eike sendo conduzido à detenção começaram quando ele ainda estava dentro da aeronave. Horas mais tarde, circulou pela internet uma fotografia do empresário com a cabeça raspada. O mesmo aconteceu com Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro, há alguns meses – afinal, me parece que as detenções em nosso país estão se tornando objeto do mais puro entretenimento.

Pessoalmente, não tenho a menor simpatia por Eike Batista ou Sérgio Cabral. Cabe à Justiça dizer se eles cometeram ou não os crimes pelos quais foram presos. Não me agrada minimamente, porém, a exposição pública dessas pessoas, nem tampouco me causa prazer algum vê-los como o objeto de escárnio e humilhação por milhões e milhões de espectadores país afora. Argumenta-se, não sem certa razão, que nenhum deles teve consideração pelo contribuinte e pelo Brasil quando agiram em benefício pessoal e em detrimento da coisa pública. Pode até ser verdade, mas não nos cabe fazer igual, o que seria vingança, e não justiça. O Direito Penal foi concebido para punir infratores, não para que a sociedade se vingue deles.

Vejo com profunda preocupação a forma como determinados representantes das instituições agem, com militância e partidarização. Qual o objetivo, por exemplo, de se raspar os cabelos desses detentos e, especialmente, de permitir que sejam vazadas fotografias após o procedimento? É possível que haja uma razão para que se corte os cabelos dos novos presos dessa forma, não sei; mas nada justifica sua exposição. É para quê? Para transformá-los em atração pública, como num show de horrores ou num jardim zoológico? Que triste é a vida de um povo que só pode se rir da desgraça alheia. A mim não interessa quem seja o alvo; não me agrada nem um pouco a humilhação dos outros.

Acima de tudo, me preocupa profundamente a esquerda envolvida nesse processo de escárnio e desejo de vingança. Quando não são os nossos a surgir sob o bastão da Justiça, podemos nos rir à vontade, certo? Mas há quem considere uma injustiça o que está acontecendo com Cabral e Eike, e a opinião dessas pessoas deve ser considerada, sim. Creio que deva haver respeito por todos. Mesmo o pior dos ditadores deixa alguém que chora sobre seu corpo.

Esclareço: não estou criticando as inúmeras piadas que foram feitas sobre Eike, Cabral e tantos outros. Aí está o impagável portal Sensacionalista, que nos faz rir em momentos nos quais o país parece afundar nesse lamaçal todo. A meu ver, porém, o gracejo que se faz associando as pessoas aos delitos que supostamente cometeram é muito diferente de exibir uma imagem dessas pessoas em situação absolutamente degradante, tendo em vista o escárnio. Isso me causa mais repulsa do que a figura de um homem corrupto. Além disso, se nós da esquerda desejamos que as pessoas, ao serem presas, sejam também agredidas e abusadas sexualmente, e que sofram todo o tipo de desumanidades na cadeia, sinto informar, não militamos do mesmo lado. O modelo de sociedade que eu desejo passa bem longe disso.