Professor da Universidade Estadual do Ceará postou no facebook um texto que mostra uma situação ambiental alarmante. Veja texto abaixo:

Por Hugo Fernandes-Ferreira/Do Facebook

Prestem bem atenção na tristeza dessa foto… Eu vou tentar explicar a gravidade da situação que existe por trás dela.
O Açude do Cedro, que banha os pés da famosa Pedra da Galinha Choca, em Quixadá – CE, está 100% seco. Nenhuma gota d’água. Meus alunos da Universidade Estadual do Ceará me atentaram para a imensa quantidade de cágados mortos no local e, quando lá cheguei, decidi que deveríamos urgentemente começar uma pesquisa para avaliar o problema.
Rodamos o açude inteiro e contabilizamos o impressionante número de 439 quelônios. Nenhum vivo. Isso não se resume a uma simples tristeza do fato. Esses animais cumprem papel fundamental na cadeia alimentar, inclusive pela alimentação parcialmente detritívora, otimizando a ciclagem de nutrientes. A questão é que quase todos os quelônios pertenciam a somente uma espécie (Phrynops geoffroanus), muito generalista e resistente a diversos impactos humanos, quando o esperado era encontrar provavelmente​ uma melhor proporção populacional entre ela e outras duas espécies menos resistentes (Mesoclemmys tuberculata e Kinosternon scorpioides). Isso quer dizer que, antes da seca, a situação do açude possivelmente já estava crítica, talvez por poluição, alta salinidade da água ou outros fatores.
Se o impacto sobre os cágados foi alto, imaginem sobre os milhares de peixes e milhões de invertebrados que ali viviam. Isso pode causar um panorama ainda mais grave. Com as primeiras chuvas, a água vai se acumular e cadê os controladores? Cadê os predadores das larvas do Aedes aegypti? Os índices de dengue, zika, chikungunya e mayaro podem ser alarmantes se nada for feito para controlar a reprodução.
Desculpem o texto longo… A intenção é mostrar que o problema da seca do Nordeste é complexo demais para ser tratado com tanto descaso e falsas promessas há décadas. O que está acontecendo no Cedro é observado em dezenas de outros açudes. A biodiversidade da Caatinga e a população pobre do sertão merecem, por uma questão de direito basal, políticas que realmente resolvam.
Nós ainda estamos na fase inicial da pesquisa, medindo os quelônios para fazer um estudo de densidade e estrutura populacional e pretendemos traçar um plano de recuperação através da reintrodução de matrizes monitoradas. Mas, enquanto isso, a sede e a fome parecem voltar a assombrar o povo do sertão. Os braços da Academia e da sociedade precisam ser estendidos a essa gente… Assim pretendemos e, se possível, conto com a ajuda de vocês.

Atenciosamente,
Hugo Fernandes-Ferreira,
Doutor em Zoologia
Prof. da Universidade Estadual do Ceará