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Por Luís Fernando Praga

Trabalha, filho, põe as mãos na terra,
Semeia a vida, traz o pão do trigo.
Nos vãos do vale e nos altos da serra
Transforma a Natureza em teu abrigo.

Trabalha, filho, agora é teu momento,
Erra e aprende, ensina e evolui,
Transpira a pele, sente Sol e vento,
Trabalha o pensamento e te instrui!

Trabalha, filho, atrás do que é teu!
Trabalha para ser alguém no mundo!
Trabalha e envelhece como eu,
Trabalhando, segundo após segundo…

Trabalha, corre, pisa, faz primeiro!
Compete como um bicho predador!
Trabalha muito, filho, faz dinheiro!
Trabalha mais, esquece dessa dor!

Trabalha logo, filho! Vamos! Mais!
Trabalha o dia todo, o ano inteiro!
Produz mais uma arma, esquece a paz!
Esquece aquele amor, aquele cheiro!

Trabalha, filho, escuta o que eu te peço!
Trabalha muito mais, porque foi pouco!
Trabalha pelo bem do meu sucesso!
Sem distração, trabalha feito louco!

Trabalha, homem! Gira esta engrenagem!
Constrói mais catedrais e mais castelos!
Cumpre tua missão sem vadiagem!
Obedece ao senhor dos teus flagelos!

Vai trabalhar, seu pobre vagabundo!
Verme infeliz, falido preguiçoso!
No fundo és meu escravo mais imundo!
Um semi-humano sem direito ao gozo!

Trabalha, minha besta serviçal!
Sobrevive por mim, triste gentalha!
Apanha estes centavos e este sal,
Trabalha e trabalha e trabalha!

…_Desculpe, pai, não posso trabalhar:
Só posso competir por desemprego;
Nasci sem casa ou terra pra plantar,
O frio e a fome tiram meu sossego.
Desculpe, pai, não sei fazer melhor,
Sei sofrer preconceito e jogar bola.
Já me fizeram aprender de cor:
Não tenho serventia nem escola.
Eu vejo os vãos do vale, vejo a serra
E famintos lavrando para o dono.
Eu sonho a liberdade sobre a Terra
E só posso ser gente no meu sono.
Desculpe, pai, mas isso é que é a vida?
Não era para a gente evoluir?
Não era pra ter paz e ter comida,
Amor e aconchego pra dormir?
Desculpe, pai, não acredito mais!
Mover esta engrenagem é o caralho!
Eu quero um mundo com melhores pais
E fazer do meu sonho o meu trabalho!