Por Andressa Vilela

wikipediaPrimeiro dia de academia. Passei a catraca, toalhinha no ombro, pessoas nos aparelhos. Uma longa fila de esteiras dispostas uma ao lado da outra deixava apenas alguns lugares vagos. Subi. Olhei para a pessoa à minha direita para cumprimentar. Ela não se virou. Olhei para a da minha esquerda, mesma cara fechada, fones de ouvido e olhar fixo. “Deve ser só hoje”, pensei. Não era.

Dias seguintes, cansada de olhar para os lados e nunca receber pelo menos um sorriso sem graça, parei de tentar. Comecei a subir na esteira, colocar meus fones e olhar para frente. Um dia, no cantinho do olho, percebi que eu tinha acabado de ignorar alguém que subia na esteira ao lado e me olhou rapidamente. A pessoa do olhar fixo agora era eu. Provavelmente aquele era mais alguém no primeiro dia de academia. Provavelmente mais uma pessoa a perpetuar tal cultura em poucos dias. Saí pouco tempo depois.Que tipo de cultura você quer disseminar? 2

Dois anos se passaram, alguns primeiros dias em outros lugares e um me fez relembrar a cena. Uma escola de dança em particular, primeiro dia, cumprimentei de longe os muitos desconhecidos com um sorriso e um aceno de mão. A primeira pessoa que entrou depois de mim, sem me conhecer, me deu um beijo no rosto e assim o fez com todos os presentes. Cada aluno que chegava repetia a atitude. Quando o professor entrou, fez o mesmo com toda a turma. Na semana seguinte, como gostei do comportamento, cumprimentei cada um pessoalmente e vi a cena sempre se repetir. Teria o professor em algum momento começado a atitude e dado o exemplo? Não sei, mas aprendi com todos os que estavam lá.

A cultura de um local ou grupo é passada de uma pessoa para a outra e, quanto mais se tem de um comportamento em determinado lugar, mais forte ele fica e mais seguido ele é. Prova disso são os sensos comuns que caracterizam regiões e países, por exemplo. Nem todos seguem o padrão de comportamento, mas ele se torna forte característica geral encontrada ali.

A ciência explica – Fábula dos macacos e das bananas

Em um experimento científico, um cacho de bananas foi colocado no alto de uma escada. Quando um macaco subia para pegar uma banana, todos os que estavam lá embaixo tomavam um choque. Para evitar o castigo, quando um dos macacos tentava subir a escada, todos batiam nele.

Os macacos foram sendo substituídos e cada novo integrante, ao tentar pegar as bananas, era espancado pelos demais que não haviam tomado choque algum. Mesmo sem nunca ter levado um choque, cada novato repetia o comportamento aprendido: bater naquele que tentava pegar as bananas. Se pudessem responder por que batiam uns nos outros, a resposta provavelmente seria: porque aqui é assim que as coisas funcionam.

Agora é sobre você

Resta saber se vamos mudar de ambiente, se vamos mudar o ambiente e que tipo de comportamento queremos ter. Se agimos conforme o que acreditamos ser certo ou se estamos reproduzindo cegamente comportamentos que aprendemos.

Você age pela sua cabeça ou vai na onda, justificando suas atitudes como se fosse vítima do ambiente, isento de qualquer culpa, porque “aqui todo mundo faz assim” ? Você é apenas parte de um experimento, ou tem a capacidade de pensar por si mesmo e quebrar padrões de comportamento que não fazem sentido? Que tipo de cultura você quer disseminar?

E você já passou por casos assim? Conte nos comentários!

Andressa Vilela escreve para o Faces Feministas