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Por Guilherme Boneto

Orlando é uma cidade – compreensivelmente – associada ao consumo. Uma análise um pouco mais aprofundada nos mostra, entretanto, que mais de 250 mil pessoas lá residem, americanos nascidos nos EUA e americanos que passaram a viver ali em busca de uma vida mais digna e justa. São cidadãos que constroem seus sonhos e suas vidas diariamente, e não há tanta diferença entre as nossas lutas e as deles, afinal.

Estive em Orlando pela primeira vez em 2013, e seguindo todos os clichês possíveis para um cara que viveu plenamente a Disney ao longo da infância, realizei um sonho. Mas desta vez, ainda que tenha sentido exatamente a mesma magia de antes, encontrei Orlando ferida pelo atentado à boate Pulse, em junho, sobre o qual escrevi aqui. Não que houvesse algo de diferente, até porque os americanos são um povo muito ligado à tradição e tudo parecia estar no mesmo lugar. Mas tudo, desde as casas das pessoas, passando por lojas, hotéis e até mesmo o anúncio do nome da cidade disposto num viaduto que cruza o acesso a Downtown, fazia questão de LEMBRAR.

#OrlandoStrong, diziam as inúmeras placas com as quais cruzei durante os vinte dias em que estive na cidade, uma cidade que se mobilizou em favor de sua comunidade LGBT, terrivelmente ferida pelo atentado à casa noturna. Ainda que nascida da morte de 49 inocentes, a mobilização era tragicamente bonita – Orlando se sentiu ferida ao ver seus filhos irem embora daquela forma. Há nisso um simbolismo inclusivo que eu, um brasileiro que observa com atenção os movimentos da sociedade conservadora e do parlamento, invejo abertamente.

Para mim, é também simbólico visitar um local que se espelha no sofrimento de sua comunidade LGBT. No Brasil, como bem sabemos, mortes cruéis são tratadas como uma banalidade e rapidamente esquecidas. Longe de fazer o mesmo, os americanos de Orlando querem se lembrar e evitar que ocorram tragédias como essa no futuro.

Afinal de contas, o paraíso dos sonhos e das compras é tão humano quanto qualquer outra cidade. Ferido, se mobiliza e avisa ao mundo: seguimos fortes. Ser LGBT num lugar como Orlando é ter esperança num futuro de paz, apesar dos obstáculos. A nós, resta esperar algo mais alentador.