Por Regis Mesquita

Crianças educadas para confiar no Mc Donalds e desconfiar do pai e da mãe

Caso real:

Pai estava educando o filho e, por isto, não comprou um brinquedo para ele. O filho acusa o pai de não dar brinquedos para ele. A criança disse: “até o Mc me dá brinquedinhos, só você que não me dá”.

Na cabeça da criança o McDonalds é tão legal que dá brinquedinhos para ele. Por isto, ele gosta e confia no McDonalds (ele sente segurança e prazer quando lembra da empresa).

O pai, corretamente, explicou que a empresa não dá nada para o filho. Aliás, o tratará muito mal se ele chegar sem dinheiro lá. A empresa quer dinheiro, não quer ser um amigo verdadeiro dele.

A criança fica indignada!

O pai leva o filho até o restaurante e fala para ele ganhar um dos brinquedinhos.

O filho vai até o caixa e pede um. O caixa explica que o pai dele tem que pagar. O filho insiste e o caixa chama outro da fila e dá atenção à outra pessoa (desprezando a criança). O filho fica muito frustrado (esta frustração é uma ótima frustração; pois tornará esta criança mais forte e sábia).

O pai abraça o filho e explica a verdade. Quem está sempre ao lado dele é o pai e a mãe. Na hora da doença o McDonalds jamais cuidaria dele, não é esta a função da empresa. Ela quer ganhar dinheiro e para isto faz de conta que é amigo dele. Fazem propaganda falsa e enganadora.

A criança fica triste, mas entende que seu pai é o seu verdadeiro amigo. Desta descoberta surge mais amor e confiança entre pai e filho.

O desapontamento do filho é a condição dele ser forte e encarar a verdade. Afinal, está seguindo um péssimo caminho uma criança com a mente doutrinada para sentir segurança e satisfação com o McDonalds e desconfiar da amizade do pai.

Educar é o que este pai fez. Jamais tenha dó de mostrar a verdade para seus filhos.

O que aprender com este pai?

O que este pai fez foi valorizar a experimentação. A transmissão do conhecimento através da prática.

A prática é a melhor forma de transmissão do conhecimento. Nunca mais a criança pensará no McDonalds como interessado no bem estar dela.  Ao experimentar a realidade, o pai pode complementar o ensinamento: a empresa quer seu dinheiro e não sua felicidade.

A experimentação permite com que pais e filhos concentrem-se e desenvolvam em alguns temas. Por exemplo: a conversa pai-filho sobre ganhar o brinquedo poderia ter demorado um minuto. Com a experimentação, o assunto durou mais de 45 minutos.  Os dois traçaram a estratégia, foram até o local, o filho pediu o brinquedo e depois os dois conversaram sobre a experiência. Ou seja, a experimentação permite aprofundar o conhecimento de algo.

A regra de uma boa experimentação: não desqualifique a experiência e o conhecimento do filho.  Não adianta o pai disser: “está vendo eu te falei, você me fez perder um tempão…”. O pai deve ser afirmativo e motivador. Ele pode dizer: “gostei da nossa experiência”. “Gostei da sua coragem de pedir o brinquedo”. Não é a criança que está sendo avaliada e sim a realidade. Deve-se explicar a realidade.

Existem milhares de tipos de experimentações possíveis de serem feitas. Por exemplo: plantar feijão e acompanhar diariamente o crescimento até a colheita. Pode-se fotografar, medir, desenhar, observar, etc. Tudo na vida é passível de ser objeto de experimentação.

Todas as experimentações devem ter um fim bem determinado. Tão importante quanto experimentar é parar a experimentação. Afinal, a vida torna-se muito chata se for avaliar tudo. Por exemplo: plantou os pés de feijão, cuidou e mediu. Depois colheu e comeu o feijão. Acabou a história do feijão. A não ser que a criança / adolescente goste muito de plantação.

A experimentação também tem duas finalidades. Primeiro: incentivar a capacidade da criança de criar um projeto, superar as dificuldades de implementá-lo e ter disciplina para colher os resultados. Segundo: ensinar a observar a realidade. Observar a realidade é uma das qualidades mais importantes para ter vida ativa e competência.

O foco de todo pai e mãe na educação deve ser oferecer um ambiente rico em bons estímulos. Este fato não é atingindo quando crianças ficam horas na frente da televisão. Por isto, tome uma decisão: oferecerei opções para que ele não use a televisão ou use-a no máximo uma hora por dia.

Crianças que criam laços afetivos com uma cadeia de restaurante (mesmo que sejam relativamente pequenos) estão mostrando que sua vida afetiva está medíocre. É sinal de que algo está muito errado naquela família. Um modo de vida que gera este resultado tem que ser reavaliado.

Quer saber mais sobre “Educação de filhos” na época atual? Neste link do Blog Psicologia Racional você encontra dezenas de textos sobre este tema: clique aqui.

Regis Mesquita é o autor do Blog Psicologia Racional e da coluna “Comportamento Humano” aqui no site Carta Campinas