Por Gabriele Martins

fairy-tale-1180922_640Perfeito!
Simplesmente perfeito!
Juro que não faço ideia de como tudo isso começou, parece uma brincadeira de muito mau gosto se vocês querem saber a verdade. No inicio foi tudo uma maravilha, ao menos nos primeiros três meses? Acho que foi isso mesmo, mas enfim, o foco aqui é essa bagunça que ninguém me diz como arrumar.

Claro que desde o Ensino Médio minhas amigas me chamam de dramática, mas com certeza se elas me vissem agora, ou ao menos tivessem uma pequena ideia de onde eu fui me meter, sem sombra de dúvidas elas diriam que estou com toda a razão na arte de pirar legal.

Sério, como isso foi acontecer? Só posso acreditar que é aquele ditado: não cospe pra cima que cai na testa, ou algo assim. Parabéns pra mim! Sou mais uma fracassada neste mundo moderno, onde é necessário ter tudo quando não se tem nada. Legal, de verdade, parabéns mundo!

Caso você ainda não tenha entendido meu “é necessário ter tudo quando se tem nada”, eu vou explicar, afinal eu adoro espalhar essa ideia por ai, é bem simples na verdade, por exemplo, quando estamos em busca de um estágio, no meu caso em Direito, acredite ou não, muitos escritórios tem como requisitos: ter carro, carteira da OAB e experiência. Senão é um, é outro, ou pior, são todos de uma vez, isso aliado ao fator tempo, como no meu caso, que faço faculdade de manhã, quando esse é justamente o horário de um estágio digno. Digo digno no sentido de: Ahhh dinheiro!! Ahhh Experiência!! Ahhh que escritório Foda!!

Agora me diga se isso não é a ironia da vida?
Porque primeiro, se eu preciso ter experiência então pra que estou me candidatando a esta vaga, se eu quero justamente ganhar experiência? Segundo, como eu vou ter um carro se ainda estou na faculdade e a procura de um estágio- o que basicamente significa ganhar um salário mínimo, pois raramente é mais e quase sempre é menos. Essa é a vida, então acostume-se pessoa que como eu achou que era só entrar na faculdade pra ficar rico, a vida infelizmente não funciona assim, e pra ajudar eu ainda sou completamente depende dos meus pais. Grande ilusão foi a minha infância, acreditando que era só fazer 18 anos pra ir embora e só voltar nos feriados. Tenho que agradecer à Hollywood, afinal sem a cidade do estrelato eu seria só uma pessoa que se contenta com a vida que tem, então meu muito obrigado à Hollywood e aos seus roteiristas, por me fazerem acreditar não apenas em finais felizes, mas também em independência e dinheiro adoidado logo nos primórdios da vida adulta.

Não eu não me esqueci do terceiro lugar, apesar de que gostaria, afinal esse é absolutamente o mais irônico de todos, a carteira da OAB! A qual só se pode conquistar por meio de uma prova- bem difícil- a partir do quarto ano. QUARTO ANO! Você ouviu bem, quarto ano! Como se nos outros anos eu não tivesse que arrumar em emprego e ter meu tão sonhado dinheirinho.

Eu definitivamente deveria ganhar um prêmio por burrice, o que eu tinha na cabeça quando escolhi Direito? Nada, essa é a resposta, um grande de um idiota nada. Mentira, eu só pensava: Concurso público por favor!
Porque foi assim que eu fui educada, para pensar que concurso público era o melhor. E por grande parte da minha vida foi assim que eu pensei, afinal ele não te avalia pelas suas notas, como você se veste ou em que lugar estudou, não, ele é neutro, a chance de um recomeço, você faz uma prova e se for bem está dentro, seu futuro está garantido.

Esse sempre foi o plano.
Acho que foi ai que tudo desandou, quando o plano não era mais o suficiente para mim. Eu queria, sonhava, com mais. Muito mais do que eu poderia ter, ou melhor, que eu posso ter.
Há dois modos de explicar a vida, a forma bem simples: a gente nasce, cresce, se reproduz e morre; e a forma mais complicada: a gente nasce chorando, cresce feliz, inocente e cheio de esperança, tem sonhos, os quais muitos são esmagados pela vida ou simplesmente deixados de lado, nos reproduzimos- se tivermos sorte de encontrar um parceiro legal e descente hoje em dia, ou acabamos por fazer isso sem querer, afinal por que usar proteção e método contraceptivo?-, e por fim morremos, deixando todo nosso dinheiro suado, conquistado com muito esforço e privações para nossa próxima geração, ou se você não se reproduziu, para o parente mais próximo.

Antes, quando eu achava que ainda tinha esperança e poderia conquistar meu sonho, enxergava a vida da forma simples, agora não, de repente ela já me parece mais complicada do que eu previra e bem mais destrutiva de tal maneira que eu nem pude imaginar.

Meu plano era simples: passar no vestibular de direito e no concurso público, para então comprar a fazenda do meu pai. É claro que ainda tinha os projetos do meio, como, passar na OAB, ficar três anos advogando, não gastar nada do dinheiro que eu ganhasse e continuar morando com os meus pais até eu ter 30 anos, pois somente assim eu conseguiria comprar a tão sonhada fazenda do meu pai. Contudo, nada disso, ao menos na minha pequena e ignorante cabeça, me impedia de realizar o meu sonho, que era um intercâmbio, nem que fosse por um mês apenas, eu queria um e faria de tudo para consegui-lo.

Porém tudo que é bom dura pouco, e no meu caso tudo se foi num rompante. Meu pai me disse que não me deixaria fazer o intercâmbio, nem que fosse de graça, pois ele ainda teria que arcar com algumas despesas e não queria que eu perdesse um ano da minha vida.
Um ano! Quem liga pra um ano? E se eu fosse por um mês não iria perder nada, ao contrário, só ganharia, mas nunca foi assim que o meu pai viu as coisas, para ele era uma perda de tempo, afinal eu iria fazer um concurso público e de que isso serve? Nada. Ao menos foi isso que ele justificou, ou melhor, nem justificou, tendo em vista que ele apenas manda e eu obedeço, pois sou totalmente dependente dele.

Foi nesse momento que meu mundo parou, afinal não é suposto que os pais deveriam apoiar os filhos? Sonhar com eles, não por eles? Não, meu sonho foi suplantado, ele passou a ser o concurso público, sem intercâmbios, sem viagens ao exterior, sem conhecer novas culturas. Um verdadeiro adeus sonho, e olá pesadelo. Foi ai que comecei a odiar meu pai, porque ele destruiu meu único sonho, eu nunca quis ter um carro ou conhecer meu príncipe encantado, eu queria apenas conhecer novas culturas, ver os museus do mundo, conversar com pessoas de outras línguas. Isso era a epítome de felicidade para mim.

Bom, acho que posso dizer que em um ato de rebeldia eu simplesmente relaxei, peguei dependência em muitas matérias, não me dedicava a faculdade, ia pra aula mas não respondia a chamada, ou não fazia a prova, enfim, me dediquei a ser um completo fiasco, acreditando que assim eu machucaria meu pai do mesmo modo que ele me machucou, da pior maneira possível, negando a ele seu sonho de me ver com um diploma em mãos.

A única coisa que esqueci nesta vingança infantil foi que fazendo isso eu acabava com o meu futuro, não que um dia cheguei a pensar que tivesse um. Visto que para tanto é necessário ter uma vida, a qual nunca tive, pois sempre vivi em função dos desejos dos meus pais e de seus ensinamentos, eu nunca tive nada meu, a não ser meu sonho.