Por Fábio Lucas Oliveira

1012806-15042016img_2702-Pessoal vou postar aqui uma das melhores análises dessa guerra de números:

Para conhecimento:

Cansado de tantos placares e notícias que parecem mais querer influenciar a decisão do que propriamente fornecer bases sólidas para uma avaliação coerente, resolvi eu mesmo fazer um raciocínio numérico sobre a decisão de domingo, em relação ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Para facilitar, resolvi contar os votos governistas, que precisam ser de apenas 33,3% (172 votos) dos deputados federais. Faço uma conta pessimista, do ponto de vista do governo, que é quem precisa do menor número. Desta forma, consigo uma margem de erro bem baixa. Não podemos esquecer que quem deve buscar os votos certos é a oposição, já que a abstenção – legítima no processo democrático -, favorece o governo.

Vamos partir do princípio de que o governo começa com todos os votos do seu partido (o PT) e do PCdoB, certo? Logo, Dilma parte de 68 votos (57 + 11).

Já há uma manifestação clara dos parlamentares do PSOL que, embora não apoiem Dilma, consideram o impeachment um “golpe institucional”, conforme nota da bancada. Todos os 6 parlamentares já se pronunciaram . Logo: 68 + 6 = 74.

A Rede Sustentabilidade se posicionou contra Dilma, por meio de Marina Silva. Mas 2 de seus parlamentares – Aliel Machado (PR) e Alessandro Molon (RJ) – já se posicionaram contra o impeachment, inclusive na comissão de admissibilidade. Temos: 74 +2 = 76.

O PSB saiu do governo em 2013. Logo, dos seus 30 votos, 3 se declararam contra o impeachment. Então: 76 + 3 = 79.

O PDT tem 20 votos, mas 2 se declararam a favor do impeachment. Dos restantes, 7 estão indecisos e 12 se declararam a favor de Dilma. Mas, um deles (Flávio Nogueira – PI), é suplente e deve sair para ser substituído pelo titular do mandato. Como ele não se posicionou, sobram 11 certos, na pior das hipóteses: 79 + 11 = 90.

O PP orientou voto a favor do impeachment, mas avisou que não haverá punição para dissidentes e abriu uma votação interna. Nela, dos 51 parlamentares, 9 se posicionaram ao lado do governo. Então, temos 99 + 9 = 99. (Veja comentário abaixo sobre erro de cálculo)

O PSD foi o assunto do dia. Seu líder, que é o presidente da comissão do impeachment, disse que, após consulta à bancada, está contra Dilma. Mas não divulgou números. 5 deputados fizeram manifestações públicas a favor de Dilma e 15 estão indecisos, sobrando 17 que podem ser contabilizados contra a presidente. Vamos somar só os 5: 99 + 5 = 104.

O PRB tem 22 parlamentares. Apenas 1 se posicionou a favor de Dilma e ainda existem 9 indecisos. Se todos esses se posicionaram contra Dilma, sobrará apenas 1. Improvável, mas sigamos pessimistas: 104 + 1 = 105.

Do PTN, 4 deputados são a favor do impeachment, 6 estão indecisos e 3 são contra. Mantenhamos nosso raciocínio o pior possível, do ponto de vista do governo: 105 + 3 = 108.

No PTB, dos 19 parlamentares, 4 do nordeste – Arnon Bezerra (CE), Adalberto Cavalcanti (PE), Paes Landim (PI) e Pedro Fernandes (MA) – ficam com Dilma e o partido já anunciou que não haverá punição. 108 + 4 = 112.

No Prós, houve uma articulação para que os parlamentares a favor do impeachment fossem substituídos pelos suplentes na comissão de admissibilidade. Os 2 eram a favor. A bancada é de 5 e 3 estão contra o impeachment. Logo, 112 + 3 = 115.

No PT do B, dos 4 parlamentares, 1 está indeciso e 2 são a favor do impeachment. O que sobra é vice-lider do governo na Câmara e já se manifestou na comissão de admissibilidade contra o impedimento. 115 + 1 = 116.

No PHS também há apenas um apoio já declarado, da bancada de 7. 116 + 1 = 117.

No PTN, da bancada de 13, 2 deputados já se posicionaram contra o impeachment e 4 estão indecisos. Mantenhamo-nos pessimistas: 117 + 2 = 119.

No PEN, há 2 deputados e cada um está de um lado. Continuemos a conta dos votos do governo: 119 + 1 = 120.

No PMDB, 12 parlamentares já se posicionaram contra o impedimento. Ainda devem voltar os 3 parlamentares que ocupam ministério e o partido deve perder mais um voto para o PT, de Patrus Ananias (MG), que também deve voltar para a votação, tirando um indeciso do processo. Para facilitar a conta matemática, vamos acrescentar o voto de Patrus à conta do PMDB. Logo, ficamos com 120 + 16 = 136.

No PR, fala-se em “ampla maioria” contra o impeachment. Segundo o líder, recém-eleito depois de conversas do partido justamente para ajustar o posicionamento, a legenda teria, dos 40 votos, 28 favoráveis a Dilma. 136 + 28 = 164. (Ou melhor, 173 – veja comentário ao post)

Ou seja, faltando 3 dias para a votação, o governo tem, pelo menos, 166 votos. Vejam como o número é diferente dos 113 da Globo, 128 da Veja ou os 112 do “Mapa do Impeachment”. Isso sem contar os indecisos que, como disse lá no começo do texto, podem aderir ao governo ou oposição na última hora ou simplesmente não votar, inviabilizando o impeachment.

Percebem a manipulação dos veículos de comunicação? Dizer: “O governo vai perder a votação, porque cresce a cada minuto a bancada pró-impeachment”, ou ainda “ Governo já admite derrota” é bem diferente de dizer que nenhum dos lados iniciará a votação com vitória certa.

Será uma disputa voto a voto, decidida na última hora, e hoje o governo está mais perto da vitória. Repito: pode mudar, mas HOJE o governo tem mais chances matemáticas do que a oposição.

É esse “pode mudar”, que falei acima, o grande diferencial. Há uma tentativa de forçar um clima entre os deputados e na sociedade, uma vez que a vitória de Dilma, apesar de toda a pressão, se coloca no horizonte. Agora, imaginem com que cara ficarão Globo, Temer, Cunha, Moro e Gilmar, depois de tanta exposição, se perderem no Congresso? Bate um desespero, certo?

Fábio Lucas Oliveira – Formado em jornalismo, ex-editor de política em jornais impressos e eletrônicos de Brasília, Campinas e Santos. Hoje é pequeno empreendedor do ramo de construções em Campinas (SP) e se dedica à política apenas quando acha importante desmistificar práticas antiéticas na cobertura jornalística. (Do GGN)