Por Luís Fernando Praga

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Hoje quero agradecer aos amigos.

Bem, também quero agradecer aos meus amigos de direita, por serem meus amigos, apesar de tantas ideias que nos distanciam, provando que a amizade transcende um pouco a essas questões políticas, mas sinto necessidade de me posicionar.

Tá certo, é uma terminologia meio arcaica e corrompida essa que separa as pessoas entre esquerdistas e direitistas. Na verdade a divisão foi criada em 1789, na Assembleia dos Estados Gerais, na França da revolução francesa, quando representantes da nobreza e do clero (as elites) sentavam-se à direita do rei e os representantes das classes trabalhadoras e exploradas, à esquerda.

Como hoje, no Brasil, não temos mais reis, temos pobres babando ovo para seus exploradores, temos corruptos que se sentam na posição mais conveniente, à esquerda ou à direita do governante, essa divisão pode parecer preconceituosa e pejorativa, então hoje quero agradecer especialmente àqueles meus amigos, e esta semana pude ver que são muitos, que se enquadram no seguinte perfil:

Quero agradecer e me colocar ao lado dos amigos que preferem a música e a poesia de Chico Buarque, Gilberto Gil, Vinícius de Moraes, às de Lobão e Fábio Júnior.

Quero estar junto daqueles que veem justiça social, e não esmola, quando um miserável passa a ter direito a se alimentar, a ter cultura, lazer, turismo, saúde, educação e dignidade.

Quero agradecer aos amigos que consideram que honestidade é dar um valor honesto às coisas e que, diferente do que o sistema prega, nenhum bem material tem mais valor do que a vida de qualquer um. Logo, compactuando com o sistema e fazendo parte dele, nenhum de nós pode se proclamar plenamente honesto, só os hipócritas.

Quero abraçar aos amigos que veem mais verdade no jornalismo de Luis Nassif e Eric Nepomucemo do que no de Willian Bonner e Miriam Leitão.

Quero agradecer e me colocar ao lado dos amigos que sentem um cheiro forte de hipocrisia quando se defende a meritocracia num país onde as pessoas nascem, notoriamente, em condições muito desiguais para competir.

Quero rir com os amigos que preferem o humor de Gregório Duvivier, Luís Fernando Veríssimo e Charles Chaplin, mas sentem certo desconforto com o Roger e o Danilo Gentile.

Fico feliz por ter amigos que, mesmo não se vangloriando de serem “cristãos exemplares”, evitam julgar para não serem julgados, respeitam as diferenças e acreditam no amor.

Hoje quero estar ao lado de quem admira os ideais de visionários como Paulo Freire, Eduardo Galeano, Darci Ribeiro, o Papa Francisco, Leandro Karnal, Frida Kahlo, Pepe Mojica, Milton Santos, mas não cai na contradição de, ao mesmo tempo, aplaudir Marco Feliciano, Jair Bolsonaro e Eduardo Cunha e Sérgio Moro.

Quero agradecer por ter muitos amigos que creem na justiça como um caminho natural da espécie humana e não nela como uma refém desse poderoso poder chamado judiciário, imposta a fim de proteger os poderosos e oprimir os oprimidos.

Gosto de ter amigos que ficam felizes quando a liberdade supera uma barreira e não quando alguém é brutalmente privado da sua liberdade.

Hoje quero dar as mãos aos amigos que se lembram do dia em que um operário, com pouco estudo, provou que era possível se realizar sonhos e com seu trabalho e vontade política ajudou a tirar 40 milhões de brasileiros da miséria, como um dia muito mais histórico do que o dia de mais uma arbitrariedade coercitiva da nossa “justiça” pra inglês ver.

Quero agradecer por ter amigos que desejam ver como um passado sombrio o tempo em que a justiça tratava denúncias iguais de formas diferentes, superlotava presídios com pretos e pobres como se isso fosse crime e imunizava políticos como se fossem deuses, sempre prostituta do dinheiro.

Quero agradecer aos amigos que não se deixam enganar por uma mídia atolada até o pescoço em seu compromisso de representar as grandes fortunas do país.

Quero agradecer aos amigos que, mesmo indo contra o estouro do rebanho e sendo escoiceados pelas ovelhas, caminham em paz com suas consciências e vivem na esperança de um mundo mais justo, com mais amor e menos ódio.

Quero dar um viva aos amigos que acreditam que nossa luta será vencida com as armas do esclarecimento, da tolerância, da insubordinação ao sistema e da paz.

Obrigado! Mesmo que não nos conheçamos, somos amigos! Somos muitos! Só precisamos nos abraçar e acreditar.