Cristhine und hagen GrafeDéficit de atenção, hiperatividade, agitação e falta de concentração são fatores que dificultam o aprendizado e preocupam pais de alunos porque são problemas que atingem cada vez mais crianças e adolescentes em idade escolar.
Mas uma experiência feita com o escargot em escolas públicas e privadas em Pirassununga, no interior de São Paulo, mostrou que o molusco da espécie africana Achatina fulica acalma a agitação das crianças. Por meio da observação do comportamento do escargot foi possível trabalhar várias questões éticas e de convivência entre alunos, como aceitação da diversidade e respeito a todas as formas de vida.

Iniciado em 2002, o projeto “Educando através dos animais: o papel da zooterapia no cotidiano de escolares” já atendeu cerca mil e quinhentos alunos e, desde então, vem utilizando bichos como coterapeutas para tratar crianças entre 6 e 16 anos com dificuldades relacionadas ao aprendizado escolar.

O molusco foi escolhido para esta experiência por ser de fácil transporte e manejo e não oferecer risco às crianças. As atividades em sala de aula duravam, em média, 40 minutos e eram aplicadas a cada 15 dias por um período de um ano. “A observação e o toque nos animaizinhos estimulam o relaxamento e a concentração”, explica Maria de Fátima Martins, coordenadora do projeto desenvolvido pelo Laboratório de Ensino e Pesquisa em Extensão em Zooterapia do Bem-Estar Animal e Helicicultura, da Faculdade de Medicina Veterinária (FMVZ) da USP, campus de Pirassununga.

A imagem, muitas vezes negativa, que se tem do molusco em algumas culturas levou a pesquisadora a trabalhar temas relevantes junto aos alunos, como preconceito e respeito às diferenças e ao meio ambiente.

Em algumas regiões, eles são vistos como bichos estranhos e asquerosos, conceito que não se confirma em outros lugares, como é o caso da França e em outros países europeus que os servem (o gênero Helix aspersa) como iguaria em bares e restaurantes. Mesmo aqui no Brasil, alguns estudos da FMVZ já comprovaram o poder cicatrizante do muco extraído do escargot.

A responsabilidade de posse de um animal também foi outro item de interesse entre os alunos. Eles aprenderam que ter um pet é mais que um brinquedo de estimação; implica ter responsabilidade pelo cuidado com o bicho, incluindo oferta de alimentação e carinho, higiene, proteção e preparo de lugar adequado para ele viver. A criança, quando se propõe a cuidar de um animal, adquire confiança, responsabilidade e autonomia.

Zooterapia é uma ciência que estuda as possibilidades terapêuticas do convívio entre humanos e bichos, que deixam de ser utilizados como companhia e de produção de trabalho, e passam a cumprir um papel de coeducadores e coterapeutas na implementação de conhecimento nas escolas e em terapias.
Nem todos os animais têm perfis zooterapêuticos. Eles precisam ser treinados e devem ser suscetíveis ao comando. (Ivanir Ferreira/Agência USP; edição Carta Campinas)