Em 2014, o Brasil deixou de aparecer no mapa da fome da ONU: mais uma razão para acreditar
Em 2014, o Brasil deixou de aparecer no mapa da fome da ONU: mais uma razão para acreditar

Por Guilherme Boneto

“Se tiver oportunidade, vá embora do Brasil”.

Ouvi esse conselho muitas vezes nos últimos meses, de pessoas mais velhas e mais experientes que eu, assustadas com os impactos que a crise econômica ainda pode provocar. De fato, basta acompanhar de longe os noticiários para ver que a situação no país já foi melhor. A crise mundial parece ter chegado aos nossos portões: as perspectivas de crescimento para a economia não são animadoras, o real vem perdendo valor frente ao dólar, a popularidade de Dilma Rousseff figura entre as mais baixas já registradas por um presidente eleito, e a população se revolta, parte dela se manifestando numa assustadora onda de ódio. Será suficiente para deixar o Brasil?

Eu me lembro bem do que me dizia o meu avô quando queria justificar seu voto no PT, lá em 2006 – uma preferência eleitoral que ele ainda mantém, embora já não precise mais votar. Vovô atribuía a Lula  a continuação da estabilização econômica e a inclusão dos mais pobres. “Você não sabe o que é correr no mercado de manhã para fazer compras, por saber que à tarde, todos os preços podem subir”. De fato, eu pertenço a uma geração que não sabe o que é a hiperinflação, e que não entende esse conceito com muita clareza. Embora a imprensa urre quando a inflação fura o teto da meta, não há qualquer margem para comparações entre os dias de hoje e aquele período, do qual os meus avós e os meus pais se lembram tão bem. Vivia-se com a insegurança de não saber se a renda do mês seria suficiente para suprir todas as despesas.

Não apenas os índices econômicos devem ser levados em consideração – embora não possamos esquecer que somos, hoje, a sétima maior economia do mundo, e que em 2011, chegamos a ultrapassar o Reino Unido na sexta colocação. Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o PNUD, divulgado em 2013, mostra que os municípios brasileiros com o índice de desenvolvimento humano classificado como “baixo” ou “muito baixo” foi reduzido de 99,2%, em 1991, para 25,2% em 2010. Realizamos, desde a redemocratização, sete eleições presidenciais, todas dadas num processo transparente, e desde 2002, totalmente informatizadas. Mais de 120 milhões de brasileiros foram às urnas em 2014, e três horas após o fim da votação, o país já tomara conhecimento da reeleição da presidenta Dilma Rousseff.

Além disso, empreendemos o maior e mais eficiente programa de inclusão social do mundo, o Bolsa Família, estudado por vários países como um modelo de redução da desigualdade a ser seguido. Estima-se que em torno de 40 milhões de brasileiros deixaram a pobreza desde que o programa foi implementado, em 2003. Em 2014, pela primeira vez na história, o Brasil deixou de figurar no mapa da fome, divulgado pela ONU, o que indica que a prevalência de subalimentação no nosso país é inferior a 5%. O ineditismo disso é notável: as pessoas não estão mais morrendo de fome no Brasil. A forma como reduzimos a pobreza, modéstia à parte e independente de partidarismos, é um sucesso retumbante.

Negar os problemas que nos esperam no futuro próximo é um erro que não podemos cometer. Associá-los à sombra de um apocalipse, porém, é puro alarmismo. Nosso país não está à beira de um colapso, mas temos centenas de problemas graves a resolver, nas esferas econômica, política e social. Não considero razoável, porém, deixar de levar em consideração a evolução do Brasil nos últimos vinte anos, e a forma como nosso país se afirma como um gigante em expansão. Enxergo o nosso país como uma nação reconhecidamente grandiosa, e lamento que nós, brasileiros, não consigamos vislumbrar a real dimensão que possuímos no mundo. Esse extenso panorama de transformações me dá razões de sobra para acreditar no Brasil, e para as lutas que virão, com todo o respeito aos que recomendam uma debandada ao exterior, eu estarei por aqui.