jon BuntingA população de Campinas que tem maior nível de escolaridade e, consequentemente, maior poder aquisitivo, se alimenta mal e tem uma dieta de gordura acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde. É o que mostrou a pesquisa da nutricionista Lhais de Paula Barbosa, desenvolvida junto ao Departamento de Saúde Coletiva, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.

A pesquisadora constatou que, em relação à gordura saturada, tanto em termos absolutos quanto em percentuais da energia total da dieta, o consumo superou a recomendação Organização Mundial da Saúde em pessoas com maior nível de escolaridade, tanto em homens quanto em mulheres. O recomendado é de até 10% do Valor Energético Total (VET) da dieta.

Em média os homens consumiram 10,4% e as mulheres 10,7% do recomendado para gorduras saturadas. Além disso, foi verificado um gradiente crescente do consumo com o aumento da escolaridade, tanto em termos absolutos quanto em participação relativa. As gorduras saturadas estão presentes basicamente em alimentos de origem animal como carnes, leites, ovos e nos alimentos industrializados, caso dos nuggets, steaks e hambúrgueres.

No caso do consumo de gordura total, tanto em termos absolutos com no percentual da energia total, a pesquisa revelou presença elevada na população de Campinas, estando próximo ao limite superior dos níveis recomendados. Mas entre os homens foi maior nos segmentos de maior escolaridade.

A gordura trans, que foi banida em alguns países, está presente em todos os subgrupos de escolaridade, e em ambos os sexos,  em quantidade muito superior à recomendação da OMS, ultrapassando 1% da participação relativa no total de energia da dieta. O consumo deste tipo de gordura produz efeito metabólico sobre a hipercolesterolemia e aumenta os níveis de colesterol total e de LDL-c, além de reduzir as concentrações de lipoproteína de alta densidade (HDL-c). Outros prejuízos metabólicos são provocados pela capacidade desta gordura de competir com as gorduras poliinsaturadas e de bloquear ou inibir a síntese de ácidos graxos essenciais de cadeia longa.

A nutricionista Lhais acredita que a população mais escolarizada, que é também a de maior renda, tem maior acesso aos alimentos industrializados e às carnes vermelhas, que contêm concentrações excessivas de gordura. Por causa do preço, esses alimentos são consumidos em menor quantidade pelas populações de menor renda. Isso também acontece com alimentos do tipo fast food, refeições prontas como lasanha industrializada, pizzas e outros que custam mais caros do que fazer em casa, mas possibilitam refeições rápidas.

A situação pode ser ainda pior, já que a pesquisa de Lhais utilizou dados do Inquérito de Saúde do Município de Campinas (ISACamp) de 2008/2009, que foi o segundo de uma série de inquéritos periódicos do município. O primeiro foi realizado em 2002/2003 em parceria com outras universidades públicas do Estado, e a versão atual (2014/2015) encontra-se em andamento.

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O ISACamp é um estudo realizado em base domiciliar e populacional e avança na análise das condições de saúde da população compreendendo múltiplas dimensões:  prevalência de morbidades, problemas de saúde, práticas preventivas, comportamentos relacionados à saúde, uso de serviços de saúde, qualidade de vida, uso de medicamentos, prática de atividade física, dentre outros. (Com informações de divulgação da Unicamp)