A você, que me chamou de “viado” no Facebook, meus agradecimentos

.Por Guilherme Boneto.

Um elogio é sempre agradável antes de mais um fim-de-semana
Um elogio é sempre agradável antes de mais um fim-de-semana

Hoje eu fui chamado de “viado” no Facebook por um completo desconhecido, e quero aproveitar este espaço para agradecer devidamente o elogio. Veados são animais graciosos e elegantes, e embora eu não ouse tentar reproduzir seu garbo, fico envaidecido por ser lembrado desse modo. Permito-me apenas corrigir a ortografia: “veado” se escreve com “e”, não com “i”, conforme grafou o rapaz. Com “i” são escritas outras palavras, como “imbecil”, por exemplo.

Enquanto digito me ocorre que talvez o sujeito tenha se referido à minha sexualidade, e por isso escreveu “viado” assim, com “i”. Fiz uma rápida visita ao perfil do moço, um jovem morador da capital cearense, e qual não foi a minha surpresa ao constatar que o mesmo é cristão, evangélico, uma pessoa cujo coração visivelmente transborda de amor ao próximo, conforme ensinou Jesus de Nazaré.

Numa postagem ele lançava a reflexão: “Quem não tem seu lado preconceituoso que atire a primeira pedra”, uma observação muito oportuna da parte dele, devo dizer. Mais cedo, no mesmo dia, anunciava sua ida à igreja, ao seu encontro com o Salvador, ao qual eu, na qualidade de um “viado”, não tenho acesso. Num breve protesto contra uma dessas modas das redes sociais, finalizou seu manifesto com a frase: “Vao tudo tomar no cu… Ler a Biblia ninguem.quer ne?!”, uma sentença cuja sabedoria fica implícita, mesmo com eventuais erros do vernáculo, os quais eu não me atrevo a corrigir em nome da liberdade poética.

O post no qual o sujeito constatou que eu sou um “viado”, certamente porque também visitou o meu perfil e me considerou um cara extremamente refinado e elegante, era um elogio meu à deputada Maria do Rosário, no qual ela prometia lutar para aprovar uma lei que instituísse uma cota mínima de 30% para as mulheres no parlamento. Desejei a ela força nessa empreitada, que não haverá de ser fácil, embora eu ainda ache 30% um número muito baixo, considerando-se que as mulheres são mais de metade da população brasileira. Lendo a minha frase, de apenas duas palavras, o jovem em questão tirou sobre mim uma série de conclusões. E me resumiu: “seu viado”. Como jornalista domino razoavelmente bem a técnica da escrita, obrigado, e diferentemente dele, conheço a norma culta da língua portuguesa; me era facultativo, pois, responder-lhe de uma série de formas. Contudo, uma vez que a palavra “viado” para mim é elogio, mesmo com “i”, tratei logo de lhe agradecer, ratificando sua afirmação. Dona Cleusa, minha maravilhosa mãe, sempre me ensinou que a boa educação não permite que um elogio passe em branco.

Devo também expor que, numa das fotografias mais recentes do ungido rapaz, havia a foto de uma moça sorridente. “Um dos motivos da minha felicidade”, anunciava ele, o que me emocionou de pronto. Questiono-me, porém, se uma pessoa realmente feliz rotula os outros e os inferioriza apenas por conta de sua orientação sexual. Estará a moça trazendo tanta alegria assim à vida do rapaz? Ouso torcer para que ela consiga fazê-lo com ainda mais eficácia. Quem sabe assim o jovem consiga acompanhar mais as páginas de políticos cujo pensamento estão de acordo com os dele, nas quais, com um pouco de sorte, não encontrará outros “viados” com “i”, feito eu. E também faço votos para que, num futuro próximo, ele siga sua própria recomendação e leia a Bíblia, dando especial atenção aos trechos que pregam o amor, a paz e a tolerância.

Mas enquanto isso, siga elogiando. Isso apenas engrandece pessoas que são, felizmente, muito amadas. É o caso de alguns “viados” como eu. Será o dele?