o-melhor-lancePor Cida Sepulveda

Não é necessário fazer uma análise crítica do filme “O melhor lance”, já que temos várias excelentes publicadas em diferentes sites da WEB.

Opto por descrever as minhas sensações ao contato com a obra de Giuseppe Tornatore, diretor do conhecido “Cinema Paradiso”, cineasta italiano.

Mera coincidência, há duas semanas atrás, revi o filme “Uma simples formalidade”, do mesmo diretor, e me senti lançada em lugar sombrio em que só almas penetram.

“O melhor lance” e “Uma simples formalidade” são nomes que despistam a verdadeira intenção do artista. Quem poderia imaginar que por trás de títulos que não chamam a atenção por si mesmos moram penumbras, figuras estranhas, jogatinas humanas perversas?

Figura central da história, Virgil Oldman é um leiloeiro de arte bem sucedido que se apaixona por uma bela jovem que sofre de agorafobia.

Mas, essa descrição não é verdadeira. Há por trás da relação de um sexagenário poderoso com uma mulher linda e louca, uma outra história que se revelará no final.

Em cenários sombrios, com apenas alguns toques de realismo, personagens constroem o arcabouço para uma trama que se desvelará lenta e pesadamente, nos levando consigo, através de incertezas e perguntas.

A riqueza da obra está em sua densidade. É possível analisá-la por inúmeros ângulos, ou seja, fazer múltiplas leituras desse texto cinematográfico instigante.

Dentre eles, destaco apenas um: a sala em que o leiloeiro guarda sua coleção de pinturas, lugar secreto, reservado ao íntimo; as paredes inteiramente cobertas por quadros nos puxam para dentro do clima atemporal que reina ali. Mais tarde, tais paredes estarão vazias, assustadoramente vazias, o que nos deixará atônitos.

“Há sempre algo de autêntico escondido nas falsificações!”

Esta frase, dita por um personagem, é a chave certa para quebrar a cabeça de quem vê o mundo com os olhos enquadrados por escolas, tendências, ideologias, senso comum, sejam eles, cult ou não. Para nos libertar de nossas certezas, para realçar a dúvida.

Não são muitas as oportunidades de se ver filmes de arte em Campinas. Melhor não perdê-las. O filme está em cartaz no Cine Topázio, do Shopping Prado.