Insegurança e desvalorização dos imóveis são os motivos alegados por alguns moradores do bairro Cambuí, em Campinas, para impedir que a Casa da Cidadania, que atende moradores de rua, passe a funcionar no prédio do antigo Clube Monte Líbano, na Rua Ferreira Penteado.

Casa da Cidadania funcionava embaixo do Viaduto Cury, mas foi demolida durante um projeto de revitalização da região
A Casa da Cidadania funcionava embaixo do Viaduto Cury, mas foi demolida durante um projeto de revitalização da região

Por meio da Casa da Cidadania, entidades assistenciais, com apoio do governo, oferecem comida e banho para pessoas que vivem na rua. A Casa funcionava embaixo do Viaduto Cury, no Centro, mas foi demolida recentemente em meio a um projeto de revitalização da região. Com isso, o trabalho passou a ser realizado em um local provisório, no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), na Rua José Paulino.

Segundo notícia publicada pelo jornal Correiro Popular, não há nada confirmado quanto à transferência do espaço. A Prefeitura apenas está estudando alguns locais, mas não há nada definido, tampouco com o Clube localizado no Cambuí. O presidente do clube, Abrão José Andrey, afirmou ao jornal que nada foi assinado ou fechado.

Mesmo assim, vizinhos ao local dizem que estão percebendo uma movimentação diferente na área e, em meio à especulação, já começaram a se mobilizar contra a vinda da Casa para o bairro. A preocupação dos moradores, a maioria de classe média ou média alta, é que os imóveis serão desvalorizados com a vinda de um local destinado a oferecer assistência aos moradores de rua. A questão da segurança é outro argumento utilizado pelos moradores. A simples presença de uma Casa que atende moradores de rua poderia gerar insegurança, aumento do lixo e de pessoas aglomeradas em frente ao local, segundo relatos de moradores.

A importância do espaço, no entanto, foi lembrada na reportagem pela assistente social e ex-diretora da Secretaria de Assistência e Inclusão Social da Prefeitura Edith Bertolozo. Ela inclusive lembrou a necessidade  da Casa estar localizada no centro, pois em um local afastado as pessoas simplesmente não vão ao local prestar ajuda.

Edith tocou ainda em um ponto essencial: a dificuldade das pessoas em lidar com questões sociais. O problema dos moradores de rua e de diversas outras pessoas que vivem “à margem” na sociedade atual é diariamente alimentado por essa dificuldade. O morador de rua incomoda, suja o centro da cidade, pode levar insegurança, desvalorizar o imóvel, mas ele é gerado por essa mesma sociedade que o recusa em nome de argumentos elitistas e que o segrega de forma ainda mais violenta porque oficial, feita à luz do dia. Os moradores de rua que fiquem na sombra, longe, cada vez mais longe, a ponto de todos os outros fingirem que não veem o que, no entanto, insiste em estar ali.